O PERDÃO

Reflexão das folhas

“Pedro, aproximando-se, perguntou a Jesus: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Mateus 18.21 e 22

O ritmo, compassado das mãos, ia para frente e para trás. E, assim, as folhas secas, caídas no frio chão de cimento, eram varridas com a vassoura de folhas de carnaúba. Um limpar apaixonante e cansativo, para novas folhas ressequidas caírem no dia seguinte...e no seguinte...e no seguinte...e...

Num ato reflexivo, seguindo o bailado das folhas, pensei: Que relação isso com o perdão? O que aprender enquanto se executa uma função rotineira, e, para muitos, uma das mais baixas nas funções hierárquicas? Até quantas vezes terei que limpar as folhas que continuarão caindo? Até quantas, Senhor? Até sete?

As relações humanas não se diferem das folhas, estejam elas secas ou presas em seu caule. Ou, quem sabe, amarradas em forma de vassoura para ajuntar e recolher as ressequidas.

Jesus não diz que o perdão é algo fácil, ou que se esgota, pelo contrário. Se fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e, se em Jesus, o Cristo, somos chamados para refletir a Divina Glória, então o perdão faz parte integral da nossa vida.

No relacionamento humano, não somos diferentes das mãos que seguram a vassoura. Podemos reagir negativamente e dizermos que estamos cansados de limpar, dia-a-dia, folhas e mais folhas secas, pois, no dia seguinte, outras estarão ali ocupando o mesmo lugar, precisando ser retiradas. O que acontecerá se deixarmos de varrê-las? Quanto tempo até que...?

Nas relações humanas, quantas amizades desfeitas; quantos casamentos rompidos; quantos pais que não falam mais com os seus filhos; filhos que não mais dirigem a voz aos seus pais; irmãos, primos, avós e tantos mais.... Pessoas que deixaram de limpar, primeiramente, o seu coração. Cansaram-se de limpar as folhas. Deixaram-se sucumbir pelas folhas caídas.

Deus não deixou de nos amar; de crer em nossa capacidade; de limpar as folhas secas que deixamos, muitas e muitas vezes, em nosso caminho. Num sonho encantador o profeta ouve a voz de Deus, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí. E quando todas as nossas folhas secas caíram sobre Jesus, cravando-o na cruz, a voz que ouvimos de seus lábios foi: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.

Como estão as tuas mãos? Já cansadas? Iradas pelo cair das folhas? Desiludidas? Desgastadas? Ou, apesar das folhas caírem dia após dia, estão renovadas, em Deus, pelo perdão que ele te concedeu e pelo Espírito que te renova em amor?

Perdoa! Perdoa sempre. Pois só quem perdoa de todo coração é que conheceu o amor e o perdão de Deus para consigo mesmo.

Moses Adam

Poá, Abrigo Batuíra, 01 de julho de 2008