A MINHA BABÁ NENA

Impossível deixar de recordar com gratidão e amor o muito que recebi de você.

Quando peuena, fui embalada por seus carinhosos braços. Um tanto mais crescidinha como sua cama era ao lado da minha, com o egoísmo próprio da criança acordava-a dentro da noite para que dissipasse os meus tolos temores infantis. Nao obstante vencida pela natural fadiga dos afazeres do dia, você não perdia a paciência por ter o seu sono interrompido e recomendava.

- Aqui não tem nada que lhe faça medo. Chame pelo seu Anjinho de Guarda. Ele está sempre juntinho de você.

Algumas vezes me acomodava, em outras exigia qual uma pequena tirana

- Conta uma história bem bonita

Logo escutava a sua voz um tanto sonolenta, a contar histórias de princesas, ou da Gata Borralheira, das quais nunca chegava a saber o término, pois tranquila em sabê-la ao meu lado, o sono logo fechava os meus olhos. Quando saia para passear, você era quem pegando os meus cabelos, e levando-os para o alto da cabeça fazia um engraçadinho e redondo pitó para amarrar o exagerado laço de fita que era usado em meninas da minha idade. Eu reclamava impaciente.

- Ai! Tá doendo! - e irreverente dava-lhe tapinhas nas mãos.

Você sorria acalmando

- Já terminei sua malcriada

Eu contava 10 anos de idade quando você deixou a nossa casa vestida de noiva, com muito chororô da mamãe, nosso, e algumas disfarçadas lágrimas do papai. Recordo que logo no dia seguinte , ao acordar, meus dois irmãos e eu, botamos a boca no mundo querendo ira para a sua casa, o que naturalmente não foi permitido. Inconformados, realizamos uma fuga e fomos matar as saudades, o que muito a comoveu.

Quando moça feita levava meus vestidos mais bonitos para que você os lavasse, temerosa que outras mãos os estragassem, pois só confiava nas suas.E quando vesti-me de noiva, pondo-me você diante do espelho, tal qual a Mamãe Coruja, falou enternecida, faltando até mesmo com a verdade.

- Veja que noiva ttão bonita!

E o cristal refletiu o seu e o meu sorriso, o seu tão feliz quanto o meu. E seus olhos me olhavam como duas carícias que lembravam a suavidade das pétalas das rosas.

E assim pela vida a fora, você sempre me amou e me serviu. E quando o luto da viuvez chegou para a sua pessoa, você retornou para nossa casa buscando na minha companhia e na dos meus , o lenitivo da sua saudade.

Dois anos depois você chorava ao meu lado junto ao esquife da mamae, unindo a minha dor a sua dor. E juntas ficamos por mais quatro anos. Eu sempre lhe amando e recebendo o mesmo de você. Mas... em 15 de abril de 1990 - sábado de Aléluia - tão serenamente como vivera, você fechou os olhos para sempre. Novamente orfã, chorei muito , uma vez que sempre tivera em você uma segunda mãe. E o meu pranto era agora sem consolo, pois não tinha mais ninguém para partilhar das minhas dores, nem lenir as minhas saudades,

E no passar dos dias que agora estou a viver, um tão tão confortador, quão impossível pensamento, vem sempre se aninhar em meu fatigado cérebro, fatigado elas dores, e pelos muitos desencantos da vida, e numa perene saudade de tudo que você representou no decorrer da minha existência, queda-se assim a sonhar. Como seria confortante se nessa solidão que agora faz tão presente no correr dos meus dias, eu a tivesse ainda ao meu lado com seus cuidados e carinho, e ao morrer, sentir a carícias das suas mãos sobre o meu rosto, como devo Ter sentido no dia em que nasci.

Maria Amélia