A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ

Meu mecanismo de defesa natural é a escrita. Quando algo me magoa, desconto as mágoas no papel ou no espaço etéreo da internet. Ontem, revelei para a primeira garota por quem fui apaixonado no colégio que ela foi meu primeiro amor. O que eu queria exatamente com isso? Apenas jogar conversa fora. Também disse que, embora ela tivesse sido meu primeiro amor, o tempo passou, e eu me apaixonei por outra pessoa: você. Resumi nossa história, mostrei meu site no Recanto das Letras para ela e expliquei que, além de falar sobre ela, escrevo sobre cinema, literatura e cultura em geral. Disse que ficaria satisfeito se ela visitasse o site.

 

Estávamos nos dando bem, mas essa mensagem foi solenemente ignorada, embora ela tenha lido. Naquela época, ela também gostava de mim; disso não tenho dúvidas. Suas amigas me diziam, e até um professor comentou que nós acabaríamos nos casando. Então, por que ela não respondeu de forma gentil? Talvez confessando que também sentia algo à epoca? Em vez disso, preferiu me ignorar. De duas, uma: ou ela realmente não sente mais nenhum resquício de sentimento por mim ou não gostou de saber que sou apaixonado por outra pessoa.

 

Ainda bem que não a amo mais. Não sinto nada além de respeito e talvez admiração pelas conquistas que ela alcançou. Advogada, de onde saímos, não é pouco.

 

Mas toda essa história eu confessei apenas para falar sobre quem de fato amo. Ela me faz muita falta. É nítida a ausência que uma presença feminina causa na minha vida; até os psicólogos apontam isso. Se eu tentasse qualquer tipo de contato com ela, não há dúvidas de que seria bloqueado. Se ela soubesse qual é meu perfil no Instagram, mesmo sendo meio oculto, com certeza me bloquearia. Até amigos meus ela já me bloqueou. Mas eu não a julgo, ela deve ter fortes motivos, embora me dilacere por dentro todas as vezes que penso nisso. É como o filme de Wim Wenders. Tão longe, tão perto.

 

Apesar disso, não resta dúvida de que ela continua presente na minha vida, seja pela presença constante nos meus textos, seja pela participação no site, ainda que sob um pseudônimo. Mas talvez não seja ela de fato, apenas o espírito dela. Ela é a única que pensa em mim com carinho, que faz questão de saber de mim, de exercer a contradição de estar presente mesmo estando ausente. Que sentiria minha falta se eu partisse…

 

Sinto falta dela no dia a dia, nas coisas mais banais. Preciso sentir seu cheiro, seu gosto, seus fluidos. Quero desfrutar de sua companhia. Necessito dela psicologicamente, fisicamente e emocionalmente. Não sei se isso é ou não possível, mas qualquer vestígio dela já me satisfaz.

 

Enquanto não realizo meu desejo de estar com ela, desfruto da minha própria solidão, como disse Zaratustra. Mas, assim como a abelha que acumulou mel em excesso, também preciso de mãos que se estendam para mim, para dividir tudo o que carrego e compartilhar o que tenho. E vice versa.

 

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 25/11/2024
Reeditado em 25/11/2024
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