Lágrimas de Sol
 
Quando você for embora,
deixe a porta encostada
para que o vento do Outono
varra os seus passos
da entrada de minha casa.
Tire suas roupas do meu armário
e não deixe para trás
nenhum vestígio de sua presença.
Decerto você sentirá falta
daquela camisa listrada
em preto e branco
que você usava 
quando
nos conhecemos.
Ela ficará comigo.
Não porque precise,
mas porque sou humana
e quero, de vez em quando,
nas noites em que a chuva
bater na minha janela,
sentir o cheiro do nosso amor.
Retire seus livros de minha estante
porque eu não quero olhar para eles
e ver você sentado na cama
lendo Paulo Coelho
com olhos de quem já viveu tudo aquilo.
Limpe de minha cozinha,
a sua figura nua
fazendo panquecas
para tomarmos nosso café da manhã
depois de termos feito amor
como loucos na noite anterior.
Vá,
siga seu caminho em paz
e não olhe para trás.
Porque não quero ver em seus olhos
o adeus nunca dito
a dor do ultimo beijo
a paixão refreada.
Vá,
trilhe sua estrada com honra
e com confiança
e não se arrependa de nada
porque, se por algum motivo,
em algum momento,
você achar que a saudade está te sufocando,
lembre-se de que ela só existe
porque um grande amor viveu ali.
Mas não havia tempo para ele.
Porque os séculos passaram.
Porque em nossas vidas,
surgiram atalhos
e nesses atalhos,
encontramos outros olhares
e outros amores.
Mas nunca, nem por um segundo,
tenha dúvidas
do quanto você foi amado.