Silêncio

Fez-se um silêncio entre nós.

Você não fala, você não ri.

Por que não me conta daquela vez que você...

Por que esse silêncio? Fala comigo. Tão bom é ouvir tua voz. Fala comigo mais uma vez, só mais uma vez. Eu não quero recorrer a minha memória, nem a um vídeo no celular. Eu quero ouvir tua voz!

Ria de alguma coisa engraçada que eu falar, uma bobagem qualquer; ou faça aquela cara de tédio pela piada ruim que eu contei. Gargalhe de um meme que eu te mandei ou um que você achou e me enviou. Por que esse silêncio? Por que eu não consigo te ouvir? Nem te ligando, nem indo na tua casa.

Prometa pra mim que se eu for lá na frente de casa agora você vai estar saindo do carro com as crianças e o Diego. Vai falar alto. Não vai ter silêncio! Prometa que se eu for na cozinha ou na sala agora você vai estar ensaiando algum passo de dança. Eu lembro tanto do meu último aniversário. Você chegou tão animada cantando os parabéns para mim e dançando, aí eu dancei junto. Foi o melhor presente que eu já ganhei. Dança de novo, só mais uma vez.

Esse silêncio dura muito tempo? Fala pra mim que não. Diz que daqui a pouco isso passa. Que é só um sonho esquisito, um pesadelo, daqueles que a gente acorda aliviado por ter sido apenas um pesadelo. E essa dor que eu tô sentindo? Ela diminui até sumir ou se encaixa em algum lugar do meu coração?

O teu silêncio me destrói, acaba comigo. Mas o teu sofrimento me destruía mais. Desculpa por não poder fazer nada todas as vezes que você disse que não aguentava mais. Eu trocaria de lugar com você sem nem pensar. Eu sentiria toda dor que você sentia pra te ver bem. Você foi uma guerreira minha irmã, lutou até o fim. Poucos aguentariam o que você aguentou. Mas você já estava tão cansada. Descansa! Agora você consegue descansar. Agora não tem mais dor, nem desconforto, nem agonia, nem mal estar. Agora há calmaria. Há descanso ao lado de Deus. Não há mais câncer. Você está restituída. Dance livre no céu. Eu aguento teu silêncio, eu aguento essa dor. Por você, pelos teus filhos. Alguma força há de surgir. Eu te amo Beta, é muito bom ser teu irmão. Tantas histórias a gente viveu. Eu achei que iríamos ter mais. Muito mais. Mas eu esqueci que a vida é um sopro e as vozes se calam algum dia. A tua se calou muito cedo. E agora eu tenho que me acostumar com teu silêncio.

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Roberta Borges, Beta. Minha amada irmã. Saudades!

* 07/07/1984

+ 10/08/2020