Proximidade




Vem de longe aquela chuva
que festejou os cabelos dela,
fazendo seu fim em minha boca.
Bebo então o amargo da solidão.
Vem de longe aquela neve
que faz branco meus cabelos,
são manchas dos meus apelos,
que não chegaram aos cabelos dela.
Vem de longe, sempre, as lembranças
do fundo da sua janela,
do decote da sua blusa,
do silêncio do seu caminhar
bamboleando pra lá e pra cá;
tanta coisa que me faz estremecer.
Vem de longe, muito, muito desejo;
chega sorrateiro em meu leito,
na boca me desce um beijo,
uma dor afunda meu peito.
É o sonho que vem de longe,
viaja, viaja, se esconde
aos arredores de minha morada,
bem perto da sua ausência,
à uma saudade pegada.