Última palavra

A espera pelas horas,
o último cigarro me aguarda;
tudo parece que se acaba,
nada é primeiro.
O último beijo na distância,
fala e exprime saudade.
O abraço derradeiro
levou meu peito junto,
ao encontro das cores
das manhãs de abril,
na transfusão do vermelho contra o negro,
o entardecer, a noite.
Meu último poema há de vir,
apenas não saberei dizê-lo.
O último dormitar,
também não hei de conhecê-lo.
Meu último sorriso
foi ontem, passou pelo meu rosto
mergulhando nas poças que me circundam.
Minha última palavra,
hei de proferi-la quando soarem os clarins,
os últimos.
Minhas ruas, os últimos passeios,
serão em vielas,
sem os abusos das chuvas.
A última razão, perdida
se foi com o tempo, pelo ocaso,
nas últimas sombras,
ressoando ainda nos ouvidos meus,
todo o silêncio da sua também última palavra...
Adeus.