Devaneio





Se eu pudesse ocupar o tempo,
manchar o espaço com seu beijo,
com a cálida boca desocupada.
Se tudo fosse diferente,
cada linha à transpor
teria um sabor de fé,
de gente como a gente.
Se faz o instante,
nada é constante.
Na vitrine, as contas,
parte de tantas vidas,
onze contas perdidas,
lançadas ao vento.
Se meu grito fosse o mundo,
meu abraço a esfera,
tanto de tudo mudaria,
nada seria só,
teu nome pelas calçadas
rabiscadas contra o pó.
Mas meus braços são curtos,
meu tempo em desalinho.
Quisera ocupar o vazio com minha boca,
do beijo, acordar a pureza adormecida;
o mundo seria gente,
e eu não sentiria mais saudade.