Fragmento



Passou o tempo,
a vida se escoou,
se foram os amores,
os beijos foram entregues,
os corpos roubados pelos vícios.
Passaram as mãos,
as mãos repassaram.
Em tudo, apenas eu fiquei;
fiquei de bruço,
retido pelo drama, preso ao soluço.
Furtei-me as responsabilidades,
omiti meus valores,
busquei pelas saudades
os caminhos de volta aos amores.
Fiz tinta a vida, nos poemas,
causei mágoas, rasguei a fé.
Do próximo, apenas retive um semblante,
o movimento falso das despedidas.
Passaram também os motivos
desfeitos pelo simples pendor,
a bandeira funesta do desamor.
Tudo passou, tudo passa,
apenas eu, entre os mutáveis,
vou continuar sendo nada,
uma nuvem em teus olhos, feito fumaça.