Solidificação






Não sei como te quero,
se te envolvo feito virgem,
se te amo como mulher.
És confusa, perturba meus gestos
retidos ao aviso das horas,
neste tempo que faz demora,
quando a palavra não sai
da boca calada pelo beijo.
És confusa quando não te vejo,
os olhos cerram-se sublimes,
no dia que em ciúmes
faz da noite um manto só,
encobrindo tanta gente,
descobrindo muita saudade.
Mas, sei que te quero primavera,
verso que chega sem avisar,
passageiro do último vagão,
do minuto final da hora.
Sei que te quero nas criações,
mutações de coisas,
nas encostas nevoentas,
nas planícies causticantes,
nas reverberações oportunas.
Te quero nas ausências,
nos presentes amados
que ainda são presenças.
Quero-te só, que perpetua o vazio
nos lapsos da memória,
que busca hora a hora tanger as cordas,
redescobrir os sons que fizemos,
os gestos que largamos na estrada
no beijo que silenciou um grande amor.
Mas, eu te quero vem em meu sonho,
confusa, torturante, uma saudade,
como palavra por palavra do que componho.