Procela






Entrego-te hoje, tudo que é meu,
que um dia, o momento
que foi teu
nos legou...
Quando o tempo, as horas pararam
sob o sussurro daquela
que brilhou,
que maculou a dois,
a única madrugada juntos.
Entrego-te tudo em meio a tantas coisas
que restam pelas gavetas,
pelos segredos que sepulto
nas noites que perambulo,
uma sombra a mais, um vulto
em tantas insônias.
Entrego-te os afetos,
pelo tempo que guardo
na bagagem confusa do pensamento
que viaja até tua cama,
teu quarto, despido da presença
sorrateira dos meus
nos teus,
ávidos e silenciosos olhos.
Entrego-te também a vida
sôfrega, perdida
nesta bagunça que ficou
após a borrasca
que dissipou as ilusões,
o sonho que foi bonito, enquanto durou.