Transeunte da lembrança




Quase não sinto o sabor,
a cor,
o gosto daquele beijo,
pelos olhos azuis
que me trouxeram você
nas cadeias da saudade.
Hoje tudo me lembra
que somos,
fomos,
talvez fiquemos iguais
nas gotas que correm pelo rosto,
falam de ontem,
de você, de mim,
o que tivemos da vida,
alguém pelo seu,
ela pelo meu.
Somos puros para caminhar
lado a lado,
pela mesma linha,
sob o mesmo céu
que nos fez em saudade,
dando a cada metade
cortes diferentes.
Somos afluentes,
rios em busca do mesmo leito,
sem termos ido para cama.
Somos azuis pelos olhos
seus,
que hoje ansiosos
são os meus,
esperados,
repentinamente vindos
para assombrar minha solidão.