Calor de saudade




Ficaram marcas, sequelas.
As ruas me invadem,
gente que passa em minha cabeça,
raios, luzes, são gritos dentro de mim.
Carros, buzinas, feras que aguardam,
esperam a queda do passo,
a última nota no piano
para os aplausos.
Tudo me carrega para longe,
para atrás das cortinas
onde se esconde
um pedaço de coisas que deixei,
fatias não divididas,
metades que foram compartilhadas,
furtivamente estilhaçadas.
Sem um quê, uma razão,
desvio as linhas da vida,
quebro preconceitos,
mas me detenho diante dos portões;
são medos, caprichos, barreiras talvez,
mas sei que são fragmentos,
feridas que assustam
enquanto a pedra chora
no vapor do verão,
que faz confusos os problemas
nas saudades sem endereços,
pelas linhas que jogo nas ruas
que ficam tão perdidas
quanto os passos que se perdem,
pelos tropeços da volta,
tão inseguros e insatisfatórios
como todas as voltas.