Sem rútilo


Não é mais seu,
nem tampouco meu,
este presente mal embrulhado
que guardamos em nossas gavetas.
São traços,
pedaços,
ruínas que ficaram de um nada...
de um grande amor
que ruiu...
a ilusão que a vida omitiu
na poeira das suas coisas;
hoje o pó que respiro,
no perfume que você aspira;
hoje a sombra que me segue
enquanto é o sentimento que você renega
Não é mais seu,
nem tampouco meu,
o rútilo dos dias,
o calor do verão que não veio.
Nada é nosso;
sobramos na história
em meio a poeira.
Mesmo que finjamos,
a ficção não encobrirá a metade
das coisas que circulam em nós,
que vestem nossos corpos
com os mantos da saudade.