Caminhada






Caminhastes até aqui,
retire a lágrima dos olhos,
sou saudade agora.
Tive que andar para ser descoberto,
fui pela solidão, pelo deserto
entregue a alma,
dividido na vida.
Viestes comigo até aqui
sem que eu pudesse vê-la,
mesmo pelo aviso daquela estrela
que cintilou em meu teto.
Sou tarde,
sei que só pude ser saudade
enquanto fostes a causa,
a razão dos passeios noturnos,
sabendo que em qualquer manhã,
ocasos tintos,
noites iluminadas,
eu seria lido,
ficaria como agora,
preso, retido,
silencioso entre tuas mãos
no último banho dos teus olhos.
Já somos livres,
eu vencido, tu vencidas,
derrotada pelo desejo de viajar no tempo,
trocar algumas peças da engrenagem
e ver os ventos soprarem em outra direção
tendo-me de volta.
Tens, sei que tens o desgosto
desta última viagem juntos,
pelos únicos, os meus,
os mesmos caminhos que me levassem aos teus.
Enfim se fez o final...
Em mim, para tantos saudade,
só saudade.