Despudoradamente






Eis o papel, a folha branca,
a mercê para ser deflorada
pelas carícias do amor que tenho,
e sempre que aqui venho,
ela posta nua;
então, paulatinamente,
me debruço sobre ela
maculando sua pureza,
resgatando em toda palidez
o sabor da nudez
cobiçada por todos,
onde poucos podem pousar.
Faz-se então a mágica
das mãos nas mãos,
do corpo ao corpo,
por nós, por mim,
por você,
quase sempre a mercê
dos meus atritos com o mundo lá fora.
Eis a folha, o papel,
já não tão despido,
feito,
aceito aos meus afagos,
ao toque que desliza
afetuosamente, sem deixar espaços.
São traços
que marcarão nossas saudades
pelos encontros furtivos,
mais do que fruitivos
em você, em mim,
para sempre poesia.