AS PESSOAS ESQUECERAM

Talvez as pessoas tenham esquecido de

como perceber as coisas simples, de

como se alegrar com a chuva, ou de como dor-

mir cedo, vez ou outra, traz sossego ao coração.

As pessoas esqueceram de viver os peque-

nos detalhes, de celebrar os atos singelos e do

sabor da água de coco numa tarde de verão.

Um dia, elas esqueceram! As pessoas es-

queceram de cuidar da sua grama, e passaram

apenas a olhar a do vizinho. Um dia esquece-

ram de viver o hoje, e passaram a se concentrar

apenas no amanhã. Não se sabe bem quando

isto aconteceu. Mas aconteceu!

Estas duas situações passaram a existir. Ao

longo dos anos, o ser humano foi trazendo ao

coração motivações erradas e valores distorci-

dos. Até que tudo se tornou comum. Tudo virou

normal! E aquilo que era essência passou a existir

apenas nas lembranças, que geraram a saudade.

Saudade do tempo em que vivíamos o hoje.

E isto passou a ser natural. E todo mundo gos-

ta de sentir esta saudade porque é mais fácil

viver assim. É complicado voltar a viver o hoje.

É mais seguro viver o amanhã, pois vive-se

apenas a planejar. E quando chegar o amanhã?

Estaremos projetando o dia seguinte, a semana

seguinte, o mês seguinte.

Não podemos parar para viver o hoje por-

que precisamos planejar o amanhã. O amanhã

que não chega, como naquelas placas que ti-

nham na frente das mercearias, quando eu era

menino: fiado só amanhã! E o amanhã não

chegava. Fizeram isto com a vida. Fizemos isto

com a nossa vida.

As pessoas esqueceram de viver, e decidi-

ram apenas planejar para um dia realizar. En-

tão, eu me lembro daquilo que está no Salmo

118: este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-

-nos, e alegremo-nos nele.

Talvez fosse melhor tirar as lentes do ama-

nhã e voltá-las para o hoje. É preciso se alegrar

no dia de hoje, viver o abraço do filho, o beijo da

esposa, o jantar em família, ou o encontro com

os membros da igreja. Seria bom falar livremente e sem pressa sobre Deus, sobre as rosas no

jardim, ou sobre a música que emociona.

É preciso sorrir demoradamente e

escutar o coração que bate próximo ao seu;

e assim caminhar sobre a serenidade da vida,

tranquilizando a agitação cotidiana. É essencial

viver o hoje pacientemente, a cada dia. Pois

hoje é o dia que o Senhor já fez, nele devemos

nos alegrar.

Este texto faz parte do livro PEREGRINO AQUI

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