QUINTAIS
QUINTAIS
Hoje é comum ouvirmos falar de criança de rua, moradores de rua e outros designativos para aqueles que caminham, brincam e dormem ao relento.
Quando éramos crianças, também vivíamos andando e brincando nas ruas, mas geralmente brincávamos em nossos próprios quintais; íamos à casa de algum coleguinha para brincarmos em seu quintal. Os quintais eram amplos, com árvores frutíferas, galinhas, cães, gatos e outros.
Pouco comíamos em casa porque sempre havia uma carambola, uma goiaba, manga, tamarindo, pitanga, café maduro, uvas, abiu, jambo, jabuticaba, que o arroz e feijão passava de graça.
Agora as casas terminam num muro alto no lugar das tradicionais cercas de balaústres, quando havia cercas; não há mais quintal nas casas e apenas os colegas que têm piscina, jogos de vídeo game, área gourmet para um churrasquinho é que atraem. Somos todos de casa e não das ruas como outrora; vivemos presos, inseguros, cheios de cuidados; já não vemos crianças subirem em árvores como fazíamos.
Hoje há um marasmo sem fim, um desalento... por isso acredito que as crianças são chamadas de desatentas ou hiperativas e causam problemas nas escolas; elas não têm onde gastar sua energia, não há espaço em casa, mas na escola há.
A interação que tínhamos em nossos quintais, hoje as crianças têm na escola e só lá, por isso correm, gritam, riem e se divertem e nós ficamos de cabelo em pé, com medo de que se machuquem.
Tenho saudade dos quintais de outrora, dos varais lotados de roupa que sempre acabávamos esbarrando e sujando e a mãe gritando com o chinelo na mão. Na escola nos comportávamos porque tínhamos espaço em casa para a diversão, então o ensino rendia; os professores não precisavam se preocupar conosco em relação à família, comportamento ou outra coisa que não fosse o transmitir conhecimento.
Nós nos perdemos ao abolir quintais de nossas casas, para não ter o trabalho de limpá-los, acabamos por nos prender entre quatro paredes e aprisionar nossa liberdade de criar e voar em pensamentos.