Culpa da saudade
Acho engraçado que às vezes eu já nem me lembro de você ou do seu rosto, mas a gente se esbarra sem querer, na padaria ou no meio da avenida. Juro que teve vezes que te achei menor do que você era, ou mais gordinho. E então, eu te encontro do nada e constato que você é mais alto do que eu lembrava e está até mais magro do que costumava ser. Acho que de alguma forma meu pensamento continua te atraindo, ou o teu pensamento continua me atraindo sem querer. Eu não sei explicar o que é, mas me pergunto; até quando?
A gente acabou faz tanto tempo, a gente se machucou de tantas formas, que acho que mesmo que um dia a gente tentasse de novo, talvez não saíssemos do lugar. A ideia do nosso amor dar certo é mais gracioso do que de fato o nosso amor dar certo. Na teoria, a gente sabe que seria incrível junto, mas na prática... bom, nós sabemos que somos diferentes demais. Você implicaria com meu mau humor, e eu odiaria o seu descaso rotineiro com as coisas. Seria estimulante nos primeiros meses, até que começaríamos a nos machucar. Ofensas surgiriam. Eu fico impossível quando contrariada, e você é bem crianção quando alfinetado. As saídas seriam interessantes, assistiríamos muitos filmes. Eu cozinharia, e você me faria massagens. Os momentos bons seriam bons. O sexo seria ótimo. Mas as brigas nos arrebatariam.
Talvez você ainda não perceba ou concorde, e isso é compreensível. Eu mesma perco-me em meus pensamentos e certezas, quando enquanto espero o ônibus você aparece com suas mãos grandes, tocando meus ombros e me abraçando rapidamente. É quase como perder o ar por dois segundos. O sorriso sai rapidamente, a gente conversa sobre amenidades e se olha com aquele olhar de familiaridade. É como rever fotos daquele apêzinho bacana que a gente morou por um tempo; sentimos saudade, mas é só saudade. Passou o tempo, o apêzinho ficou para trás e nossa história também. Você sempre parte antes do ônibus chegar, e eu acabo sempre sozinha com a sensação de que isso nunca seria diferente. Culpa da saudade.