Mensagem a minha filha
Filha querida,
Lá venho eu com meus choramingos. Mas, o que fazer se esta é minha natureza?
No domingo, 13, retornando de Salinópolis, onde passei o sábado, quando trafegava na “Região das Picuds”, parei saudosamente, na barraca da “portuguesa” (aquela moça branca, gorda e banguela, que tem uma bandeira de Portugal).
Para começar a barraca estava sem sua dona.
Saltei e vi uma senhora correndo de outra barraca pra me atender e respondendo a minha indagação disse ser mãe da dita cuja e que ela não fora trabalhar. Pedi uma pamonha e um café e passei, como você sabe, a deliciar-me com tão simplório alimento. Lembrei-me agora da “Oração do Milho”, de Cora Coralina.
Por um momento tive a ilusão que vocês estavam ali. E rapidamente voltando a realidade ofereci aquela iguaria a minha acompanhante (prefiro me referir assim) e esta respondeu que não gostava daquilo. Enquanto isso eu lambia os dedos e gania degustando meu delicioso bolo do grão humilde e necessário nascido onde não vinga o trigo nobre.
Foi então que viajei ao passado e me vi parando naquele local em variadas vezes, em felizes e exaustivos retornos de nossas aventuras. Vai ser assim minha vida.
Aqui e acolá recordando aquele nosso indelével tempo.
Tempos incríveis (plagiando aquele seriado), saudosa e carinhosamente guardados no museu da Terra do Coração.
Prossegui a viagem sem ninguém a meu lado, pois minha companhia resolvera ir para o banco de trás cochilar.
Imagine minha filha, só você, que é sangue do meu sangue e carne da minha carne, com muitos de meus neurônios, pode compreender que falta faz a nós uma boa conversa. Pois é, imagine-se sem esse linimento?
Mexi no retrovisor de modo que minha companhia não pudesse ver as lágrimas que teimosamente passaram a rolar, contrastando com meu sorriso recordando situações felizes.
Ah meu Deus, obrigado por ter me proporcionado aqueles tempos incríveis.
E continuei a viagem absorto em meus pensamentos, conversando comigo mesmo, sentindo falta das tuas gargalhadas e das tuas discussões com o teu mano, até chegar ao meu destino.
Se tivesse que fazer alguns reparos, um deles seria tirar aquelas insanas lambadas que dei na doce Millie naquela viagem a Bragança. Me faz um favor, agora, dá um abraço nela e sussurra em seus ouvidos que me arrependo muito e pede para mim seu perdão. E mais um favorzinho, dá um “chelinho” naquela “coginha” e faz uma “baliguinha” na minha inesquecível “Pepetinha”.
Arre, chega de saudade por enquanto.
Vou parar por aqui para ler o jornal de domingo.
Um afetuosíssimo abraço do pai que tanto te ama.
Castanhal, 14/06/99 às 02:25 h.