Duque Cão - 4ª do Sarau Poético
Ainda me dói a Saudade,
Lembrando do Duque Cão...
Que no Tempo foi amigo...
Acentuava uma Verdade,
Fluindo no Peito, comigo,
Amigo se faz no Coração...
Amanhecia... uma correria...
Canto a canto no terreno,
Qual um doido sem noção...
Não ligava chuva, o sereno,
Corria satisfeito de Alegria,
Sentindo meus pés no chão...
Quanto bem ele me fazia!
Impregnava a Segurança...
Uma Paz muita infinita,
Condensada de Esperança,
Aliando meu Dia a Dia!
E ele nunca se cansava,
Sabia que me agradava:
Pulava e me lambia...
Parecia até um Sorriso,
Mero Silêncio preciso,
Quando sentado, calava,
Na sua manha se exibia...
A Noite da Lida voltava,
Se via-o quieto... arriado...
Cabisbaixo... olhar de lado...
Um Perdão ao ar inclemente...
Era no abano do seu rabo,
Que claramente delatava:
Peraltices; havia aprontado!
Qual uma Criança inocente...
No entanto, nunca beirava,
Sequer, pensar-me irritado,
Por isso, ladino se levantava,
Na casa, calmo comigo entrava,
Certeiro do Perdão ganhado,
Tendo seu Amigo novamente...
É uma doída Verdade...
Quando ferido, me comovia,
Os seus gestos de Amizade...
De mansinho, acabrunhado,
Sussurrava o uivo de pena...
Rodeava delicado e lambia....
Era qual um santo remédio,
Ficando minha dor amena,
E para distante, anomalia.
Preciso, em alguma madrugada,
Acordava para alhures... cedo!
Sem pestanejo, bocejava comigo,
Fingindo avistar algum perigo,
Não importava com mais nada,
Latia... delatando o meu segredo...
Certo dia, inda eu me lembro,
Levando comigo, o roçado,
Sempre à frente, era meu guia
Dificuldade jamais era direção...
Foi em 1974... mês setembro!
Semeava grão, terreno arado...
Com as patas, covas fazia,
Insinuando também, semeado,
Pegando milhos da minha mão!
Há destino... há Fruto... há Vida!
Nossa terra muda... é renovada!
Os seus momentos se acabaram,
Qual um Sol que faz o seu Dia!
Não dá para esquecer a sua ida...
Foi brutal... carrasca... destoada!
Qual ver pássaros na revoada...
Ecoando Adeus... debandando!
Bateram as asas e evaporaram,
Naquela manhã, de garoa fria!
Idoso... manco... fraco... cego!
Seguir, conseguia quase nada...
Mas sentia, sim, acalanto meu...
Foste embora, bem mais cedo,
Mensagem de bonita jornada,
Que no colo... enfim... padeceu!
Senti demais a sua partida!
Não pude, sequer, salvá-lo,
Da dor... daquela aflição!
Ficou cicatriz, ficou ferida,
Que me doeu ao enterrá-lo,
Após batida do caminhão!
No entanto ele comovia,
Quando me via ferido,
Quase uivando de pena,
E de remédio, se fazia,
Para ter-me na Alegria,
Deixando a Dor amena!
Ainda o vejo... está na lembrança,
Brincando com um pedaço de pau...
Um tanto adulto... um tanto criança,
Alheio... distante... não via o mal!
Que corria, não se cansava,
Içava ternura... felicidade...
E ao pular-me, ensinava,
Uma Canção de mocidade!
Ainda me calo da Saudade,
Deste grande Cão Duque Amigo...
Os seus gestos de Amizade,
Levarei sempre, sempre comigo,
Como um sinal de afetividade...
A Convite de Herbane Lucácius.
Convidados:
Leonardo Veiga;
Tito Vernaglia;
Maria Cândida Vieira;
Angelly Negreiros.