Borboleta no Jardim ...

Saí de casa sem rumo... Caminhar era o lema e assim caminhava pelas ruas, imersa em pensamentos e alheia a quanto me rodeava,

sem me dar conta de onde me encontrava.

Cansada que estava decidi arranjar lugar para me sentar, foi então que dei conta de que me encontrava num jardim.

Olhei o jardim e reparei que estava repleto de flores de várias cores e espécies!... Delas exalava um perfume suave e adocicado... Parecia estar num jardim encantado... Fiquei inebriada com tanta beleza e perfume, mas de tão cansada que estava, em vez de me sentar, deitei-me na relva... Tinha sido aparada pouco tempo antes, pois o cheiro forte de relva cortada pairava sobre o ar ... Deitada, fechei os olhos e apreciei aquele momento que para mim parecia único... Senti-me única e especial no mundo, por poder usufruir de uma coisa tão boa, agradável, tamanha beleza como o que estava a sentir e a ver.

No fundo estava onde sempre quis e gosto de estar, entre a Mãe Natureza e a sua beleza inigualável... Sua harmonia, alegria, cor, música e felicidade de viver.

Assim fiquei por um tempo, até que senti que algo voava em meu redor. Era um voar suave, mas perceptível ao meu ouvido. Abri os olhos e vi um espectáculo único e maravilhoso, indefinível numero de borboletas de cores e desenhos únicos voavam de flor em flor... Parecia que dançavam ao som de um bolero de Ravel ... Lindo demais.

Fiquei ali a olhar sem querer tirar os olhos de semelhante beleza...

Borboletas são lindas, e eu amo borboletas pelo encanto de suas asas e pela sua transformação. Ela é vista como ser de renovação/transformação.

Enquanto pensava isto tudo, de repente minha mente como se fizesse click, lembrou-me de uma situação vivida há já alguns anos atrás, de uma promessa que me havia sido feita através de um canal de luz por alguém que me é muito especial . Promessa essa de que um dia, nos encontraríamos num jardim e que ele estaria em forma de borboleta branca, mas que nos reconheceríamos, porque almas que se amam eternamente por laços e afins reconhecem-se sempre.

Levantei-me e desatei numa procura incessante da mesma entre aquele infindável numero de borboletas esvoaçantes... Procurei-a, e na procura lembrei-me de que tinha que usar os olhos de meu espírito e não os do plano físico ... Mas a procura foi em vão, ou talvez minha fé não fosse tão forte assim na crença de encontrar quem eu amava e amo de todo o coração...

Desiludida, sentei-me novamente na relva cortada, e fiquei ali a pensar com toda a força como eu desejava que nos tivéssemos encontrado e eu pudesse tocar em suas asas e beijá-las.

Como teria sido bom e gratificante ... Talvez não tivesse ainda chegado o momento certo.

Cobri o rosto com as mãos e chorei copiosamente de tristeza, e saudades. Acreditei que um dia aconteceria, um dia quando Deus quisesse e achasse por bem...

Ainda chorava, quando senti um bater de asas em minhas mãos, era uma borboleta, meu coração disparou de alegria, levantei-me e fui atrás dela sem reparar na cor que ela "vestia".

Afinal tinha chegado?!... Quis tocar-lhe mas ela continuou a voar e foi em direcção oposta à minha. Parei e desatei de novo a chorar... Chorei que nem uma criança, pois tive a certeza de que ainda não tinha chegado o momento e a hora de nos revermos novamente, tinha-me enganado... Assim, não poderia dizer-lhe quanto o amava, desejava abraçar, chorar em seu ombro tão bom sempre presente, beijar seu rosto lindo,quanta saudade eu tinha dele, que cada ano que passa é cada vez mais difícil, que a saudade torna-se numa dor execrável, pedir desculpa, beijando-o dizendo-lhe" Amo-te paizinho desde sempre e para sempre... Amei-te ontem, hoje, amanhã e eternamente... Fica comigo por favor..." e muito mais, quem sabe ir com ele, e ficar aninhada em seu colo de amor e carinho... Sentei-me de novo na relva e voltei a deitar-me, acabei por adormecer cansada de tanto chorar, pois minhas expectativas de encontrar meu amado pai tinham saído goradas... Sinceramente, também não tinha mais vontade de acordar .

De repente, senti um toque suave, umas cocegas na pontinha do meu nariz, e isso fez-me abrir os olhos ... Quando os abri, vi uma linda borboleta branca, borboleteando ao meu redor, ora ia para o meu cabelo, tocava meu rosto e voltava borboleteando à frente do meu nariz, acabando por pousar no meu ombro esquerdo, batendo suas pequenas asas que cintilavam de luz e cor ... Cor alva... Chorei e sorri... Sorri e chorei ...

Desatei numa gritaria para que o mundo me ouvisse e soubesse que meu pai querido havia cumprido sua promessa ... Estava eufórica, louca de alegria ... Olhava para ela e sentia uma força dentro de mim que parecia extravasar meu coração, e ela continuava ali, sem fugir batendo as suas asas e fitando-me com aqueles dois olhinhos pequeninos quase minúsculos... Afinal tinha cumprido a promessa pois estava ali e pude em mim sentir o seu borboletear como se me estivesse a beijar .

Estava ali e eu via-o e sentia-o ... Tinha passado para meu braço, bochecha do rosto e por fim pousou sobre o peito esquerdo, e meu coração disparou batendo aceleradamente ... Chorei, chorei mas de alegria pois pude compreender o que meu pai me estava a querer dizer.

Dizia-me que estava sempre comigo, que me acarinhava, me amparava e secava minhas lágrimas, e que sabia que estava dentro do meu coração, que era o meu tesouro eterno de amor. Então eu disse-lhe o quantas vezes quis dizer e não consegui, sustive o choro e disse-lhe:

"Meu pai querido, quero que saibas que estás sempre em meu coração pois é lá que vives, que te mantenho conforme és, sei que estás sempre que podes e te deixam comigo, embora te preferisse aqui fisicamente ao pé de mim, partilhando minhas tristezas e alegrias... Amo-te paizinho ... !"

Batendo suas asas alvas, volitou ao meu redor, pousou no meu peito esquerdo de novo e em minha mente ouvi um agradecimento pelo amor que lhe tenho e disse-me que " não há melhor caixinha que o coração para guardarmos as pessoas que muito amamos e as recordações que delas temos, pois aí as mantemos vivas através do amor que lhes devotamos e das palavras que sobre elas falamos e lembramos, e que era aí no seu coração de luz que eu, minhas irmãs e mãe continuamos, porque continua a amar-nos como se cá estivesse... Que sempre que pode dá seu jeitinho de poder estar connosco... Que me ama... Nos ama..."

Respondi a meu pai, borboleta em transformação, que ele viverá eternamente em meu coração e que o estava a ver como ele era através dos olhos do meu espírito. que o amava como ele tinha sido, afectuoso, carinhoso, com seus defeitos, virtudes, porque tinha sido um pai que amara as filhas acima de tudo e que suas virtudes cobriam seus defeitos... Então os dois, ali naquele jardim encantado, único e de rara beleza, deitados na relva (imaginem uma borboleta deitada na relva, mas não se esqueçam que está em metamorfose, vejam, imaginem com olhos do espírito) sentindo o sol em nossos corpos, abraçados num abraço de amor, meu pai beijou-me a face, disse que me amava, retribuí e assim matamos saudades de filha e pai materialmente. E num instante de luz, encontrei-me de novo sozinha, deitada sobre a relva daquele jardim único em tudo, cor, perfume, sons, etc... Dei-me conta de que tinha estado num outro "lugar" ou dimensão e por isso estava feliz e grata demais ao Plano Divino, ao Universo por suas forças se terem conjugado no propósito da minha Felicidade.

Abri os olhos, agora para o mundo terreno/real e com o coração aos pulos de FELICIDADE e AMOR extremoso, segui meu caminho desse dia único e que já há muito havia sido predestinado. Tive a certeza mais segura de que NUNCA estamos sozinhos porque aqueles que amamos e que já partiram continuam entre nós, de uma maneira ou outra. Através de memórias, cheiros, sonhos e coração!...

Cabe-nos a nós saber entender e "ver" com os olhos da Alma e do coração como!...

E eu sei, vi e fiquei tão feliz e serena ...

Sou grata a Deus e Dou-lhe graças por isso ...!

Amem!

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 15/01/2015
Reeditado em 14/06/2015
Código do texto: T5103115
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.