Meu Pai e minha Mãe
Meu pai, minha mãe…
Minha mãe, meu pai...
Hoje ao mexer no guarda-roupa de vocês, a saudade bateu impiedosa...
Tudo estava como vocês deixaram... até o cheiro continuava ali...
Sim meu pai, mesmo você partindo antes, mais de dez anos antes da minha mãe, as suas coisas continuaram como você as deixou. Ela fez questão de conservar tudo, como se você estivesse ali ainda – e acho que sempre esteve.
Algumas peças você nem chegou a usar, outras foram usadas tão poucas vezes e àquela sua calça de cor azul escuro, que usavas quando fazias algum passeio – ela é a sua cara - estava ali no cabide... sabe-se lá quanto tempo.
A sua blusa de frio...o seu terno...Tudo, tudo ali, carinhosamente conservado pela minha mãe.
E você minha mãe, sempre fostes zelosa com tudo, sempre cuidadosa com as roupas, sempre muito exigente no lavar as roupas – gostavas de quarar, lembras???
As suas roupas também estavam ali, dependuradas nos cabides. Alguns dos cabides até com o seu nome, você tinha esse cuidado de marcar os seus pertences.
Algumas saias e blusas, nem chegaram a serem usadas e ficaram amareladas pelo tempo. Você tinha o cuidado de deixar o conjunto – blusa e saia - no mesmo cabide e tinha um jeito muito particular só seu, de pendurá-los e posso afirmar que estavam ali, por alguns pares de anos.
Alguns vestidos do tempo em que você ainda não havias chegado ao meio da tua idade - você se foi aos 99 anos - com estampa marcante da época, estavam intactos, como se nunca houvesse sido usados.
Cada peça que era retirada, as lembranças apertavam o peito e por algumas vezes senti um nó na garganta.
Confesso que não foi tarefa fácil retirar àquelas coisas dali. O carinho com que vocês sempre preservaram as suas coisas – eram simples, modestas, assim como sempre foi a vida de vocês – mas de um singularidade ímpar, de um valor imensamente grandioso para nós, teus filhos.
Vocês nos ensinaram a respeitar a privacidade do outro e a individualidade de cada um e assim, fez com que a harmonia sempre fosse presente entre os filhos. Não me lembro de em momento algum ter existido alguma desavenças entre nós filhos.
Então minha Mãe e meu Pai, vocês são o nosso esteio, a nossa referência, o nosso chão. Quando em algum momento nos encontramos fragilizados diante da vida, basta pensar em vocês, no jeito particular que cada um tinha de se posicionar diante da vida, da maneira sábia com que sempre conduziu o nosso lar, para nos sentir fortalecidos, destemidos e seguir nosso caminho.
Então meu Pai e minha Mãe, a vontade que me dava era de envolver em cada peça das suas vestes e ficar ali sentindo o cheirinho de vocês...O cheiro do nosso tempo de criança, cheiro de mãe e de pai.
E me veio na lembrança uma frase de Rui Barbosa:
“Se um dia, já homem feito e realizado, sentires que a terra cede à teus pés, que tuas obras desmoronaram, que não há ninguém à tua volta para te estender a mão, esqueça a tua maturidade, passa pela tua mocidade, volta à tua infância e balbucia, entre lágrimas e esperanças, as últimas palavras que sempre te restarão na alma: Minha Mãe, Meu Pai”.
É saudade é doída, mas o que nos conforta é que procuramos sempre ser bons filhos, zelamos de vocês com carinho e amor, mesmo que não tenhamos sidos filhos com derramamento carinhosos – pois não fomos criados assim - mas procuramos sempre cuidar de vocês com a mesma intensidade do nosso amor e orgulho de ser seus filhos.
Ora uma lágrima teima em escorrer aqui... outra ora ali... a gente a enxuga, se compõe e... PROSSEGUE!
Se pudesse, voltaria o tempo para ter um pouquinho mais do convívio de vocês...
Vocês partiram, mas continuam presentes em nossas vidas de um jeito tão puro e carinhoso, que nos faz sentir protegidos, cuidados, zelados.
Esteja em paz minha mãe, esteja em paz meu pai, porque aqui seguiremos honrando os teus ensinamentos, embriagados por esta imensa saudade.