Lembranças

Às vezes tenho saudades do meu tempo de criança quando vivia lá na roça...

Não se tinha luz elétrica, nos ajeitava com as lamparinas de azeite ou de querosene. Também não existia água canalizada.

As noites pareciam ser mais escuras que as de hoje, o céu mais estrelados e quando era noite de lua, eram mais enluaradas. A quietude era quebrada às vezes pelo canto de algum curiango ou o uivar de algum cão. No período chuvoso em dias de calor, as noites escuras eram enfeitadas pelas luzes dos vagalumes.

Àquele menino de coração puro e alma sonhadora, em algumas noites, deitava sobre um jirau destinado a secar polvilho e ali contemplava as estrelas – cruzeiro do sul, três marias, etc, enquanto jogava conversa fora com a família.

E sempre a sonhar... os seus lindos sonhos de amor. Apesar de falante, nunca foi de se abrir muito, penetrar no seu coração, na sua alma, era coisa difícil.

O seu mundo se resumia naquelas paragens, porém, apesar de não conhecer o mundo lá fora, a cidade grande, outros lugares, tinha seus mais lindos sonhos de amor e com eles a tal saudade também...saudade de algo que nunca teve.

No período chuvoso - e chovia bem mais do que hoje em dia – era comum nos períodos de inverno, ficar quase um semana sem poder sair de casa.

À noite, o barulho da chuva no telhado, era uma cantiga de ninar, mas apesar da cama macia – um catre (cama de correia de couro de boi cru) com colchão de paina, tinha que ficar desviando das goteiras que pingavam.

Lá fora, na beira da lagoa, o coaxar dos sapos cururu, rãs, pererecas – sons dos mais diversos timbres, uma verdadeira sinfonia.

Dormia-se sempre muito cedo e levantava cedo também, apesar de criança, pouco mais de 6 anos, já tinha sua obrigação na lida diária.

São lembranças que a gente carrega com saudades, apesar da vida difícil,sem perspectiva que se vivia.