A cor da saudade
A cor da saudade devia ser lilas . Não sei porque, mas penso que é a única cor que bate com este sentimento. E hoje estou lilas. Lilas de saudade de todos os meus que já não são meus. Parece me ver cada sorriso, cada palavra, cada gesto. As imagens se sucedem como um filme que vai e volta. Vejo cada um e a todos no mesmo filme. Não. Não estou triste... Estou só sentindo aquela vontade de abraçar apertado e colar a cabeça no peito e ficar ali escutando o bater do coração. Estou só querendo o colo, o abraço, a palavra, a expressão, o desejo, o amor, o companheirismo, a alegria, e também o mau humor, a zanga, as tristezas, as birras. Hoje queria tudo. Mas me contento com as lembranças. Não penso que deva esquecer o passado, não posso viver nele e nem dele, no entanto ele faz parte de minha vida e por isso está em meus pensamentos. Se eu esquecer o passado, esqueço a alegria, o amor, a paixão, a ternura, o companheirismo, a amizade, a união, a vida em grupo e com um grupo, a vida a dois, as gargalhadas, as lágrimas que escorriam dos olhos de tanto rir, as conversas na hora de dormir ou a mesa na hora do almoço ou da janta ou na hora da farra com os amigos. Se eu esquecer o passado, esqueço os meus pais a quem amei e que com certeza me amaram, esqueço meu irmão, esqueço meu marido que foi o meu amor primeiro, esqueço os amigos que estiveram comigo. Se eu esquecer o passado esqueço das lágrimas, bem verdade, mas, também esqueço os risos. Então não quero esquecer... Não quero viver do passado, mas quero lembrar que tive um passado e que não vim do nada. Quero lembrar que o lilas é sim a cor da saudade, mas quero lembrar que tenho saudade porque tive passado e passado dos bons.