PAI ABRACE-NOS...

MEU PAI HOJE EU COABITO COM PERIPÉCIAS

E NO DESERTO DE ONDE TE EVADISTE

AGORA CAIEM CHUVAS DE LÁGRIMAS

SOBRE TEUS FILHOS, COMO NUNCA DANTES

NOS HORTOS VERDES POR ONDE PASSÁVAMOS

AGORA SÓ VÊEM NOSTALGIAS DE AMORES ESFRIADOS

E MINHA BOCA AINDA FAMINTA EMANA CANTOS

NOS QUAIS OCULTO TUAS DORES NOS FERIADOS

SOU EU, O TEU FILHO CAZEVI DAQUELA TARDE

DA TARDE DA ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO

XX ONDE SALVASTE MEUS CALÇÕES DOS MARGINAIS

QUE DE LÁ PARA CÁ, NUNCA MAIS OS VI TAL E QUAL A TI

SOU EU QUE BRINCAVA COM O MACACO

ENCARCERADO NAQUELA HORTA DA CATUMBELA

ONDE ME LEVAVAS SEMPRE ÀS MADRUGADAS

DEPOIS DE DEGUSTARMOS O PIRÃO DE FUBA MÁISE.

SOU ÀQUELE FILHO PARA QUEM SEMPRE DIZIAS

NÃO CHORE, PORQUE O HOMEM SÓ LÁGRIMA

E, AGORA, CÁ VOU SEM PRUMO NESTA CISMA

TÃO DESBARBADO COMO SEM RUMO AS TIAS

JÁ NÃO ME DÁS ÀQUELA BANANA-PÃO

NO RIO CATUMBELA, ONDE TU

APANHAVAS O PEIXINHO CASTANHO

QUE EU DEPOIS ARREMESSAVA AO RIO, DE CORAÇÃO…

E AGORA! ONDE ESTÁS, MEU PAI,

ME DÓI, ESTA LEMBRANÇA CEGA…

ESTE QUADRO SEM FOTOGRAFIA PARA TOCAR…

ONDE ESTÁS MEU FORASTEIRO PROGENITOR

VÁ, ABRACE AO MENOS MEUS SONHOS

E MEUS TORMENTOS JÁ DE SI FRUSTRADOS

DAS SAUDADES DAS ESTRADAS

DOS BAIRROS NUNCA DANTES ILUMINADOS...

Nkazevy
Enviado por Nkazevy em 23/07/2005
Reeditado em 15/04/2009
Código do texto: T36964
Classificação de conteúdo: seguro
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