Saudade de casa
Hoje bateu mais forte a vontade de reencontro.
Saí jovem e nem vi o tempo passar (será que passou?).
Se não são meus estes cabelos brancos, que fazem eles aqui?
Hoje carrego, além do peso que considero meu, quase quarenta quilos que - juro! - não me pertenciam.
Carrego mais: carrego o cansaço de quem foi longe e tem dúvidas se saberá voltar.
Hoje carrego, além do peso dos anos e do olhar distante, um vazio enorme que ninguém nesta multidão pode preencher.
Pago o preço de não ter raízes.
Fui exemplo e, repetindo o modelo, também meus filhos não se acorrentam a raízes.
Por isso, é cada dia mais forte a vontade de reencontro.
Ah, meus filhos, vocês - que praticamente só me fizeram rir e que chegaram pra dar sentido e graça aos meus dias - agora me põem em lágrimas.
Ah, meus filhos, sei bem o que é Heimweh*, embora saiba sentir mas não saiba pronunciar. Sei e asseguro: esta palavra também é imprópria, porque nem ela nem "saudade" podem definir com precisão o sentimento de quem cá de longe anseia o reencontro.
Talvez por isso é que se diz de quem sai: partiu!
E quem parte nunca mais será um todo: eis o cristal que jamais se restaurará.
São Paulo, 3 de março de 2012 - 18h20
*Heimweh= palavra alemã para definir saudade de casa.