UM Ano Sem MIguelina

UM ANO SEM MIGUELINA

SOB O PESO DAS LEMBRANÇAS

ROSA FIRMO

Ela esteve entre nós alegre e altaneira, humilde e paciente, interpretando a personagem que compôs a cena desse nosso mundo contemporâneo. Acima da média, sem comparações. Mulher, sertaneja, personagem anônima das ladeiras da Tapera do Banco e do Quitaiús.

Habitante dos vales do riacho do Rosário, por entre secas e enchentes transbordantes, festejou a vida de modo simples, como o fino da tarde; sorridente, espontânea e espirituosa enfrentava cada dia com esperança e determinação, aceitando com resignação e serenidade os óbices da vida.

Miguelina surpreendia as pessoas moradoras de grandes centros que lhe visitavam; admiravam pela sua doação por inteiro, e apego às coisas do sertão repleto de dificuldades. Tranqüila, serena, somente algo muito complexo alterava seu humor e sua paciência.

No convívio com a terra mãe, o seu labor consistia em diversas atividades como: mãe, professora, as tarefas domésticas, as plantações da roça, os queijos, as costuras que elaborava para si, as filhas e a vizinhança, tudo isso era uma constante, e completava sua felicidade. Foi na convivência com sua mãe Guilhermina, que adquiriu essas prendas e virtudes enveredando-se por esse caminho peculiar e modesto de mulher de luta, guerreira do sertão.

Estamos sós

Silêncio mudo.

A casa é uma casa vazia,

Cozinha deserta,

Sem as conversas aos domingos

Ausência com cheiro amargo

A solidão, da cor de chumbo.

Os queijos, com gosto de eternidade?

Engano,

O gosto ficou na saudade...

Nos últimos anos, quando ainda entre nós, distante de todas as irmãs, e das filhas, vivia isolada geograficamente, porém, na companhia de seu esposo e o filho Vicente e família que morava vizinho, bem como de alguns parentes, que por sua casa passavam. Nada disso perturbava sua personalidade de mulher sertaneja, contudo, seu frágil coração deixava-se levar pelas emoções. E por conter fortes emoções, sofria de alterações cardiológicas.

Leal e generosa, Miguelina tina por hábito telefonar para todas as irmãs e irmãos que viviam distantes, sem importar-se com as contas da TELEMAR. Alvissareira, em dias de aniversário, acordava cada um. Quanta saudade! Ah, se pudéssemos resgatar os bons momentos, no alpendre em fins de ano, período de férias, filhos reunidos, acolhendo irmãos, cunhadas e cunhados, sobrinhos, as meninas de Zefinha, de Alzira, de Rocilda, com eles celebrava a vida de modo altaneiro e hospitaleiro.

Lá no alpendre, ao som do violão de Suiberto, Chiquinho cantava todos e ao seu redor acompanhavam:

“Indía teus cabelos nos ombros caindo

Negros como a noite que não tem luar...”

Quando ficava só o casal, ao cair da noite, depois de um dia de um dia de tarefas pesadas, a conversa na sala, os cochilos ao pé da televisão, a noite passava ligeiro para recomeçar um novo dia de luta.

Parece irreal, um ano sem Miguelina, como aceitarmos? Talvez o tempo... As lições de vida nos deixou e que, nos arrefecem os ânimos.

Não está sendo fácil admitirmos a tua ausência, nos deixa pesarosos sem o eu carinho, suas palavras espirituosas, suas advertências, os cuidados que nos dedicava. O que importa nesse momento é que, nos auxilie a ver com mais clareza a importância de sentimentos, de virtudes como, fraternidade, solidariedade, otimismo, companheirismo, compreensão, união, perdão e resiliência. A estes sentimentos desejamos somar nossas esperanças, com a certeza de nunca estarmos sozinhos: apesar da grande diferença.

Natal,01/02/2006

Roseli
Enviado por Roseli em 07/01/2007
Código do texto: T339182