A velhice é um horror...
Se foram cinquenta e oito anos de mim,
sinto saudades dela.
Dentro dela, sou a mesma de quinze anos,
fora dela, não reconheço, mais nada.
Formaram-se crostas de gordura,
enormes mondrongos no abdómem.
Quem diria que ficaria assim!
A saudade dói.
Mesmo diante de tantas celulites,
ainda sou uma senhora jovem,
os hormônios gritam seu pranto,
pedintes e, conformados no desencanto,
aparências não são trevas, quem dera fosse.
Quem sabe um deficiente visual,
ou sem tato, sem olfato e audição...
Que pena! a velhice é apenas o envelhecimento da pele,
a força da gravidade que derruba e enruga tudo,
e daqui de dentro eu grito sem grito, o meu gemido,
tão sofrido daquele desejo do beijo de língua,
do abraço apertado deitado no meu peito, no meu ventre.
Saudade dói.
E daqui de dentro desta criança que vibra,
fico a admirar aquelas belezuras de casais,
nos seus anos dourados fazendo amor,
e naquele vigor daqueles corpos esculturais,
tudo é belo tanto por dentro como por fora,
ninguém tem nojo, ninguém é banguelo, ninguém é VELHO...