É a Vida...
Analisando bem, posso dizer que sou muito apegado ao passado. Frequentemente surpreendo-me revirando tanto que deixei lá atrás. Momentos, amigos, lugares. Ironicamente, o que mais remexo é a única coisa boa que os anos não me tiraram: a música. Muitos anos se passaram desde minha querida infância. Mas desde essa época, todos os acontecimentos de minha vida foram marcados por uma música. Por minha facilidade de guardar datas precisas, fatos, ano dos acontecimentos, ano em que as canções estouraram, cada uma me faz retornar a um determinado momento. Muitos dizem que o passado já passou, que devemos tentar esquecer tudo que deixamos para trás. Que nada volta a ser como era antes. Concordo. Mas o que fazer com as lembranças que teimam em retornar à mente? O que fazer com essa saudade que teima em doer no peito? O que fazer quando se lembra que pessoas que passaram por nossas vidas e marcaram para sempre já nos falta, já deixaram a vida? Já abandonaram esse “trem” em determinada estação que não queríamos que chegasse? Que proveito e aprendizado tirar da saudade? Como aprender com a saudade? Com os erros aprendemos. E muito. Com as lembranças, com a falta, não consigo ver como aprender. Quando lembro-me de meus amigos, principalmente os de infância, com os quais eu dividia a mesma sala de aula, me vem uma alegria em saber que grande parte deles estão bem; que hoje conduzem de forma positiva suas vidas e a de seus filhos. Mas ao mesmo tempo me bate uma enorme tristeza em ter a sensação de parecer que “foi ontem” que vivi tudo isso. Que compartilhei com esses amigos tanta coisa boa. Me assusta acordar hoje, aos quase vinte e cinco anos, e ter a sensação que a vida passou rápida demais, que esses momentos que vivi parecem ter sido tirados violentamente de mim. Lembrar que “ontem” eu estudava, brincava, me divertia. Amava estudar. Acordava com a preocupação de que matéria estudar para prova, do que iria brincar quando chegasse da escola, quem procurar para distrair-me. Hoje a preocupação é outra. “Quanto será que receberei?”, “que conta pagar primeiro”, “será que conseguirei pagar tudo”. E essa sensação tão triste toma conta de mim. Pensar que somente dez anos mudaram totalmente minha vida. Não me recordo como via-me no futuro há dez anos atrás. Mas tenho certeza que não era tão assustador como é hoje. Não imaginava que seria tão difícil conduzir uma vida. Nem sonhava que responsabilidade era tão pesado. Outro aspecto: há dez anos atrás tinha comigo a ilusão de um grande amor. Sonhava em encontrar aquela pessoa que mexeria tanto comigo a ponto de me fazer sonhar alto. Voar para bem longe. Hoje vejo que não é nada disso. E sinto falta dessa ilusão perdida. Não sei dizer se sou duro comigo mesmo. Mas não consigo mais pensar em amor com toda aquela fantasia de quando era um adolescente. Mas queria muito ainda poder enxergar a vida com olhos de criança. Com toda sua inocência, sua sensibilidade. Seus sonhos. Não sei mais nem se sonho. Não perdi a vontade de viver porque amo minha vida e sei que tenho muito a viver, conhecer e aprender ainda. Mas também já não consigo ver os sonhos como via antes. Espero daqui a dez anos voltar com uma mensagem bem diferente dessa que hoje escrevi; com os olhos de um adulto formado e com uma visão diferente dessa de hoje. Mas é esperar para ver o que a vida me reserva. E continuar lutando. Querendo ou não a vida é feita de desafios. E somente vence aquele que luta com determinação, persistência e um pouco de sonho também. Como não o perdi totalmente, continuarei essa luta incessante.