DESPEDIDA

“Tudo passa sobre a terra” Já se dizia na obra do célebre escritor José de Alencar.

A cada dia aprendo que a vida é repleta de passagens. No tempo, o fluxo do passado ao presente, e em instantes seu apagamento para o surgimento do futuro, que é inalcançável. Em nós, o amadurecimento. Seja física ou emocional, a passagem sempre proporciona mudanças. Tardio ou prematuro, o tempo não para de gerar ou provocar passagens.

Até na ciência esse fenômeno ocorre. A água, bem tão indispensável à vida, passa pelo estado sólido para o líquido, e deste se transforma em vapor. Passagens, são inevitáveis.

Mas acima de tudo...

Tudo passa sobre nós. Como as nuvens em sua surpreendente transformação, provocadas pelo contato com os sopros do vento. Tudo passa sob nós, como as passadas sobre a terra e os lugares, que nunca serão os mesmos depois do presente momento em que passamos por eles. Mas, principalmente, tudo passa por nós, ao nosso lado, sempre deixando marcas. Por vezes, marcas que insistem em nos entristecer. Outras, e estas mais valiosas, são traduzidas na lembrança, na falta, na saudade de uma despedida que a vida nos obriga a viver.

Despedida é sempre passagem. Às vezes com o bônus da volta garantido. Contudo, por vezes passagem definitiva. Aí a despedida é mais dolorosa.

Dor condensada a partir de tudo que vivemos, dizemos, fazemos e doamos. E que também desfrutamos e gozamos, como se fosse o último momento. Esse é o segredo da vida: aproveitemos as coisas e as pessoas, escandalosamente, antes que as passagens forçem a despedida.

Mas nem sempre as passagens provocam o esquecimento. Algumas marcas são eternas. Existo graças a algumas delas. Essas eu faço questão de estampar no meu coração.

Contudo, insisto. Tudo passa...

É paradoxo, é inexplicável.

Você passou por mim, e ficou. Lembrando-me de você comigo.

Já eu fico aqui. Aqui permaneço.

Passando... Deixando marcas

Deixando marcas... e passando.

Passando e presente, quem dera seu futuro.

Sempre sem despedida. Provocando a eternidade.