Sobre a superação da morte de outrem
Com o tempo, o sofrimento diminui em quantidade, não em qualidade: Eu não choro mais todo dia nem penso nela a toda hora. Agora é só de vez em quando que às vezes bate uma tristeza profana que é egoísta por natureza. Vontade de querer ela aqui, de ouvir sua voz, de ter as mãos dela na minha cabeça consolando minha tristeza só mais uma vez, e outras vezes mais.
E só de vez em quando que às vezes eu sonho com ela e ela me conforta, mas eu acordo e quero chorar. Ou então, como agora, que vejo uma qualquer coisa pela janela que sem motivo me lembra dela, a saudade aperta e a música bela me faz nela pensar.
Mais um natal sem ela. Que falta que você me faz. Minha alma chora aberta sem promessa de consolo.
As luzes de natal, que eu vejo pela janela, na casa do vizinho me lembram de todas as noites que eu passei com você, e minha irmã que entra na cozinha conversando sozinha em sua esquizofrenia me lembra que você era humana e falível.
É só de vez em quando que às vezes eu choro por me lembrar que você nunca ouviu a Iaiá falar passarinho. Eu quero você aqui comigo, vó.