EXISTÊNCIA FINDA

UMA VIDA

(Genaura Tormin)

Uma vida, uma história,

Uma passagem no tempo.

E a meta é aprender

Mesmo com o sofrimento.

Tudo passa, tudo fenece,

Mas a vida segue em frente,

Para florescer depois,

Fruto de uma boa semente.

Vede a natureza,

Os pássaros, a flor,

A humanidade...

O invólucro se desfaz

Mas o espírito permanece,

Pois morrer é um disfarce,

O início de nova empreitada,

Uma troca de vestimenta,

O término de mais uma etapa.

A Graça Lucena, minha irmã, partiu ontem.

Foi singrar outros mares, escrever poemas para outro público, passear sem o peso de sua farda de carne!

Foi conhecer outras maravilhas e esquecer o tão grande sofrimento que um CANCER devassador lhe causou, roubando-lhe o sorriso e os versos do poema.

Meu Deus, como a vida é frágil!

Nisso tudo, temos que ter coragem, pois, mesmo nos preparando para essa partida, não a aceitamos. Tudo fica revirado. Parece um tornado que tenta nos levar a alma.

A gente fica inerme, fragilizada, feito fantasmas ambulante, a perambular sem rumo.

Graças a Deus que essa passagem por aqui é apenas uma viagem, um curso de pós-graduação para que se possa ascender a patamares mais altos. Há um Deus perfeito e maravilhoso que nos espera para outras jornadas, outros afazeres.

Fico a pensar como o ser humano é falho, frágil, carente!

Perdoem-me pelo desabafo!

Meu Deus, meu Deus!

Sabemos todos que a vida é efêmera.

Ainda bem que essa existência não é em vão.

Aqui erramos, aprendemos, evoluímos para que a alma transcenda leve, livre e solta à Casa do Pai, nossa verdadeira morada.

Sei que a Graça, uma pessoa sempre encantada pela vida, pelo belo, pelo versos no eito das cordas sonoras de um violão, será uma flor plantada em nossos corações. Uma saudade que perdurará no tempo.

Mas era chegada a hora, o momento exato!

Quem somos nós para questionar?

Depois o sofrimento era grande, quase insuportável.

Nada acontece por acaso.

Há sempre uma lição a aprender, um degrau para ascender.

Fazendo uma retrospectiva, chego a conclusão de que sem essa ou aquela dificuldade tão grande, que por vezes acredita-se que os ombros não possam suportar, não haveria tanto crescimento, tanta descoberta benfazeja, tanto amadurecimento...

A dor é o buril, forjando a obra, esculpindo a alma...

Eu sou um testemunho vivo disso.

A cada dificuldade, fico a pensar que um bem maior está a caminho. Como a Rapousa do Pequeno Príncipe (Saint Exupery), começo a ser feliz por antecipação.

Isso é uma verdade e eu a comprovo a cada subida, apoiada em tantas muletas que me fazem gemer a dor da escalada.

A morte também deve ter uma compensação assim e muito, muito melhor.

Sei que não morremos, apenas trocamos de farda, de vestimenta.

Assim, outras missões, outros afazeres esperam a minha irmã.

Ela continuará velando pelos que ama aqui.

Disso, tenho certeza.

Nós é que somos tão pequenos e egoístas que não procuramos entender os designos do Criador.

A vida, ele nos deu! Ele nos tira quando chega a hora! Quando a missão estiver cumprida.

Resta, então, humildemente agradecer. Por isso, agradeço a Deus pelo o tempo que Ele permitiu que ela ficasse por aqui.

Nessa partilha, tento pedir colo para dividir o sufoco que me sai do peito.

Nesses momentos, todas as palavras tornam-se arcaicas, obsoletas, vazias...

O momento é duro e eu sinto isso.

Talvez o silêncio fosse a melhor opção.

Nessa virtualidade, não há meio termo.

O pedido e o colo se fazem presente, em tempo real.

A escrita significa o sinal da nossa presença, o tamanho do nosso afeto e também o tamanho da dor que nos consome, embora eu saiba que TUDO PASSA.

Para a Maria das Graças deixo o meu preito de saudade.

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 26/07/2010
Reeditado em 10/08/2010
Código do texto: T2400592
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