SONHO? NÃO SEI! (PARTE I e II)

Nosso amor era tão forte,

Que antes da tua morte,

Adoentada eu estava.

Tu não mais te levantavas,

Nem podias caminhar.

Embora em teus devaneios,

Sempre dizias: Eu saí pra passear,

Andei por todos os lados,

Vim aqui te visitar.

À tarde ao me deitar,

Contigo no pensamento,

Sonhei que ao portão adentravas,

Arrastando teus chinelos,

Este som ao meu ouvido,

Parecia ser real,

Era tudo muito belo.

Esperei bem quietinha,

Com o coração na mão.

Quanta saudade eu tinha,

Doía meu coração.

Viestes então ao meu quarto,

E sorristes a me ver.

Fui logo te perguntando:

Porque estás tão cansado,

O que vistes fazer?

Respondeste tu então:

Só passei para te ver,

E descansar ao teu lado.

Então deita aqui comigo,

Conta-me tudo que há.

O que acontece contigo,

Para vir me visitar?

Fostes falando mansinho:

Eu estava com saudade,

E queria passear.

Andei por todos os lados,

Visitei alguns amigos.

Estava preocupado,

Não foste mais ter comigo.

Descansarei um pouquinho,

E depois do cafezinho,

Quero voltar para casa.

Parecia tão real.

Curtimos aquele momento.

Só não sabia afinal,

Que depois do carnaval,

Nunca mais ia lhe ver.

Meu coração bateu tanto,

Dos olhos escorria o pranto,

De saudades de você.

Eu orava e soluçava,

Chorava enquanto pensava,

O que este sonho quer dizer,

Que não consigo compreender?

Seria aquela a hora,

De despedir-me de você?

Mas logo que foste embora,

Consegui te entender.

Que depois da tua morte,

Só em sonho ia te ver.

A noite que agonia!

Ninguém dormir conseguia.

Véspera de carnaval,

Quando meu pai passou mal.

Pensei: O que irá acontecer?

Deitada aqui nesta cama,

O que poderei fazer?

Será que chegada a hora,

De revelar o que tenho a lhe dizer?

Minha irmã telefonava,

Falava-me como estava,

Não sabia o que fazer.

Contatei com meu vizinho,

Que levou filha e sobrinha,

Para ver o que faria.

A madrugada foi longa.

Muita dor ele sentia,

E com os olhos dizia:

Não quero vê-los sofrer!

Ao chegar à ambulância,

Foi levado ao hospital.

Sonda, tubos, esperança,

O vômito era fecal.

Os médicos tentaram tudo,

Depois vieram dizer:

Não depende mais de nós,

Nada mais há pra fazer!

O telefone tocou,

Minha irmã do outro lado,

Falou-me com muita dor:

Tome muito cuidado,

Mas venha aqui falar,

O que tens para dizer.

O segredo era tão forte,

Que lhe impedia a morte.

Quando entrei naquele quarto,

Sorriu a me ver chegar,

Um carinho eu lhe fiz,

Como quem sabe amar.

Depois de tudo ouvir,

Num grito agradecido,

Levantou pro céu a mão,

Como pedindo perdão.

Disse a ele: tenha calma.

Prometi sempre lhe amar,

Farei tudo que pediste,

Com prazer no coração.

No peito a dor da partida,

Chamamos o nosso irmão.

Cuida de tudo pra nós,

Até a liberação.

A todos quanto pudemos,

Um a um foram avisados.

O legista nos chamou,

E com tristeza falou:

Ele não será velado.

Partam logo que puder,

Pra onde será enterrado.

Ao chegar à funerária,

Com o corpo arrumado,

Como no sonho ele veio,

Na frente da minha casa,

Descansar só um pouquinho,

Para dali ser levado.

Com a chegada do cortejo,

Imediatamente partimos.

Rumo à terra natal,

Onde seria sepultado,

Na tumba que havia feito,

Junto à mãe foi colocado.

O sonho se completou,

Era um aviso de amor:

Não quero morrer sozinho!

Leve-me: até o fim deste caminho.