Pai Herói
Pai Herói
Quando eu era criança o meu pai era o meu herói. Às vezes olhando sorrateiramente para as suas atitudes, para a sua maneira de viver a vida, eu pensava comigo mesmo: ele é tão forte, acho que até voar, se ele quiser, ele pode. Na verdade ele não era apenas meu herói, era um Super-herói. Ele podia brincar de me levantar nos braços, me jogar pra cima e não me deixar cair. Aquela sensação era incrível, ele verdadeiramente era um grande Super-herói.
Mas eu fui crescendo, fui observando que eu também tinha força para fazer algumas coisas que eu pensava que só ele era capaz de fazer. Então, de repente, deixei de olhar tanto para ele e comecei a me observar. Eu vi que talvez eu também tinha algo de herói.
Chegou minha adolescência, quando ele não mais podia me jogar para cima e não me deixar cair. Para mim, eu já era um “homem maduro”. O meu Super-herói já não era tão herói assim. Além disso, ele começou a dizer NÃO a tantas coisas que eu queria fazer que comecei a me aborrecer dele. De Super-herói agora ele era como um opositor, quase meu inimigo, talvez até um pouco, digamos, ultrapassado.
Continuei crescendo e, finalmente, aquele herói velho ultrapassado deixou de ser um modelo para mim.
Um dia eu cheguei a ser homem de fato. Casei, tive filhos, e aí me ocorreu algo interessante. As atitudes dos meus filhos me levaram a refletir sobre o meu velho e ultrapassado herói. Cada dia que passava, cada sofrimento que provava, o que me vinha à memória era a figura do meu antigo herói. Comecei, curiosamente, a ter sonhos com ele, e todas as vezes que eu sonhava, e ainda hoje sonho, ele nunca aparecia como um herói ultrapassado, mas, pelo contrário, sempre vinha no auge da sua força.
O tempo foi passando e como por mágica, o herói foi saindo do meu sub-consciente e ressuscitando na minha consciência já madura. É uma pena que quando eu pensava e tanto desejava que ele colocasse a sua roupa de Super-Herói novamente, ele parece que realmente a pôs, mas dessa vez se foi para sempre. Eu nunca pude dizer a ele o quanto gostava daquela brincadeira de me jogar para cima e não cair no chão. Meu Super-herói deu um vôo definitivo e sumiu entre as nuvens. Há dois anos ele se foi para sempre.
Experiência semelhante muitos passam com relação a Deus. Quando o conhecemos de fato, Ele se torna nosso herói. É aquele a quem contamos todas as nossas necessidades e Ele se parece um mágico a solucionar tudo sem deixar rastro de decepção em nossas vidas. É o primeiro amor. Dele falamos, proclamamos. Por Ele e em nome Dele fazemos tudo. Nos tornamos também mimi-super-heróis.
Entretanto, o tempo passa e nós começamos a olhar para nós mesmos, para a “nossa” capacidade. Antes, logo que o conhecemos, éramos capazes de, segurando em sua mão, andar confiadamente até por cima do fogo, de pegar serpentes, dominar feras. Agora, entretanto, “maduros” só o fato de andarmos sobre as águas nos faz pensar na nossa própria capacidade e, incrédulos, olhamos para a água, e aí.... afundamos.
Não somos de pedir-lhe mais tanta ajuda como antes, afinal, depois de um tempo, Ele mesmo inventou uma história de nos dizer NÃO a quase tudo que queremos fazer e isso nos deixa "decepcionados. Puxa, que chato!
Quando chegamos a esse ponto é necessário passarmos por muitas experiências e sofrimentos para poder acordar e buscar outra vez os braços do nosso herói. A grande diferença dessa história para a anterior é que o herói da segunda história nunca morre, nunca some entre as nuvens. Ele mesmo disse que seu caminho é de misericórdia e verdade.
Que hoje, se estivermos cansados de tantos “nãos” da parte Dele, possamos cair em seus braços novamente, sabendo que Ele nunca perde as forças e, por mais que cresçamos, Ele sempre poderá brincar conosco de nos jogar para cima e nos segurar.... e nunca cairmos.
Recife, 10.01.2010