Muito Cedo

Muito Cedo.

Nunca tive o costume de dormir até tarde, alguns dormem até a hora do almoço. Quando menino, está registrado em minha memória as palavras de minha mãe dizendo: Vai dormir menino, ainda é muito cedo, acorda para ficar fazendo arte, não me dá sossego, podia estar chovendo, fazendo frio sempre acordei cedo. A vida é bela demais para ficar dormindo muito, deixarei para fazer isso no futuro. Sempre fui voltado as coisas bucólicas, A vida campestre é um chamado ao acordar, Lembro me do meu querido pai, até seu nome é sugestivo para o que estou escrevendo seu nome era Florentino, significa: florido sempre via-o cantando uma música, marchinha de carnaval que dizia assim: Acorda Maria Bonita/ Levanta vai fazer o café que o dia já vem raiando/ E a polícia já está de pé, muitos foram os dias ouvindo essa música. E algo dessa coisa de menino ficou comigo. Tenho grande alegria pelo amanhecer, os cantos dos pássaros sempre me fascinou, olhar o céu nas manhãs, vendo pássaros livres a voarem sem direção, O barulho das asas dos bandos de pombas que passam velozmente, como flechas, o cantar da rola, fogo apagou, aquela rola carijó, o assovio do sanhaço na amoreira, parecendo um violino, o orvalho com suas gotículas cristalinas como cacos de vidro, preso nas folhas das gramas, esperando o sol, um espetáculo de beleza, que termina quando o astro rei brilha, ao mesmo tempo que pequenas gotas irradiam seu brilho com o brilho do astro, derretem, suavizando a terra, deixando-a mais fecunda e feliz. Nesse cenário lembrei-me de Alberto Caeiro, em seu livro o guardador de rebanhos, Diz ele:

Minha alma é como um pastor

Conhece o vento e o sol

A seguir e a olhar

Toda a paz da natureza sem gente

Vem sentar-se ao meu lado...

Para ser guardador de rebanho não é necessário ser pastor de ovelhinhas peludas, de lãs brancas, outras sujas, com os carrapichos de berros finos. Suas ovelhas anda pela Mão das estações

são suas idéias, suas palavras que formam mundo, que criam conceitos, significados, que consolam a alma nas manhãs. Das estações. Nesse cenário mágico das manhãs lembrei-me dos ensinos de Jesus que dizia: “Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta.

Não tendes vós muito mais valor do que elas?

Não andeis, pois, inquietos, dizendo:

Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?

Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”

(Mateus 6:26,31,33) Olhai os lírios do campo...

O seus olhos estão contemplando o que tem acontecido a milhares de anos. Por milhares de anos assim temos florescido, por milhares de ano assim continuaremos a florescer. Muitas história de sua vida já se foi,muitas cenas desapareceram no Rio do Tempo. O Rio do Tempo faz todas as coisas desaparecerem. Por isso nada é importante,nossa ansiedade, nossas preocupações,não acrescenta um palmo em relação a nada, você que se sente importante demais, que não presta atenção na vida nos sábios ensinos dos mestres, quando nos sentimos importantes, ficamos grandes demais, e junto com o tamanho de nossa importância cresce o tamanho de nossa dor. O Rio nos torna pequenos e humildes, somente humilde observam as aves, as flores, as pequenas coisas, que não servem para nada e nos dão tanto prazer, lembrei me do meu pastor novamente Alberto Caeiro, pois pastor são todos aqueles que alimenta a nossa alma, sacia nossa sede, leva nos para pastos verdes, em tempos de seca, de crise de idéias, de filosofia, de teologia de obras sadias, toma a cena Caeiro e diz: Quando vier a Primavera,

Se eu já estiver morto

As flores florirão da mesmo maneira

E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.

A realidade não precisa de mim.

Ou seja: Quem se exalta sentindo-se muito importante, não tendo tempo para a vida, para as pequenas coisas, esse perdeu a vida, Quem se humilha ao ponto de ver as aves, flores, não corre atrás dos ventos, esse encontrou a vida o colo do pai, da mãe...

Dr. J.F.Alvarez 7/2009

jafjaf
Enviado por jafjaf em 31/07/2009
Código do texto: T1730271