Não é melhor, simplesmente existe.

Ouço uma guitarra que não toca,

Aprecio uma voz que não soa,

Limito-me à velocidade dilacerante do pensamento,

Limito-me ao descontrolo do batimento cardíaco...

Absorto, prendo-me ao imaginário,

Liberto-me e durmo, sonhando acordado, sorrio para ninguém...

Um ninguém que conforta,

Que liberta e nos prende a isto um pouco mais.

Continuei sentado, no mesmo local onde não existe horizontalidade,

Onde o chão é céu e o céu se apaga.

Continuei aqui,

Porque aqui me sinto como não me sinto em qualquer outro lado.

Não é melhor, simplesmente existe.

Talvez um dia tudo recomece como se nada existisse para trás.

Alimento-me de ar e sonhos,

Um ar irrespirável,

Sonhos jamais sonháveis.

Não alegra mas alimenta...

Talvez um dia a guitarra soe

E a música se escute numa simbiose perfeita onde o que existe, existe

E o imaginário se reencontra

E se funde num misto de realidade e dor.

Talvez um dia o céu reapareça

E o chão enrijeça perante a abruptidade dos medos.

Talvez um dia.

Sal Ober
Enviado por Sal Ober em 09/11/2008
Código do texto: T1274193
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