Não é melhor, simplesmente existe.
Ouço uma guitarra que não toca,
Aprecio uma voz que não soa,
Limito-me à velocidade dilacerante do pensamento,
Limito-me ao descontrolo do batimento cardíaco...
Absorto, prendo-me ao imaginário,
Liberto-me e durmo, sonhando acordado, sorrio para ninguém...
Um ninguém que conforta,
Que liberta e nos prende a isto um pouco mais.
Continuei sentado, no mesmo local onde não existe horizontalidade,
Onde o chão é céu e o céu se apaga.
Continuei aqui,
Porque aqui me sinto como não me sinto em qualquer outro lado.
Não é melhor, simplesmente existe.
Talvez um dia tudo recomece como se nada existisse para trás.
Alimento-me de ar e sonhos,
Um ar irrespirável,
Sonhos jamais sonháveis.
Não alegra mas alimenta...
Talvez um dia a guitarra soe
E a música se escute numa simbiose perfeita onde o que existe, existe
E o imaginário se reencontra
E se funde num misto de realidade e dor.
Talvez um dia o céu reapareça
E o chão enrijeça perante a abruptidade dos medos.
Talvez um dia.