Cai em desgosto.
Afirmação forte, mas extrema e verdadeira para o meu lado artístico que começava a aflorar.
Nunca fui escritora de verdade. Isso é fato. Mas já há muito tempo que não consigo escrever nada. Deixei de me preocupar com a necessidade de expor meus sentimentos. Era por isso que eu escrevia: para expor meus sentimentos, que pareciam me sufocar. A partir do momento que aprendi a me compreender, a aceitar as minhas características como fato, parei de escrever. Coloquei meus fantasmas para correr e eles levaram como pagamento a suposta inspiração que eu tinha.
Minha vida esteve enrolada por mais de 10 anos. Nada ia, tudo parecia circular apenas numa viciosidade louca que me deixava completamente desorientada.
Demoli tudo, coloquei minha vida a zero em diversos termos e limpei o terreno. Teve época que eu parecia estar num ócio completo e que jamais conseguiria sair dele. Um dia eu parei e pensei: agora chega!
Comecei a trabalhar num ritmo enlouquecido, com garra, força de vontade; passei a fazer análise, ponto culminante nas minhas decisões de melhoria pessoal; senti a vida correndo em minha alma, meu espírito envolto numa aura de realização e não só de contemplação.
Trabalho com força de vontade e coerência, mas sinto falta de escrever direito. Não sai mais nada. Em compensação, nunca mais fiquei sem dinheiro para atender às minhas necessidades básicas.
Ser artista é lindo, mas manterei minha sensibilidade, minha visão de alguns detalhes da vida e não voltarei a escrever por bastante tempo. Talvez volte um dia, mas por enquanto, fico à disposição para alimentar minha alma com a arte de quem sabe lidar com tudo isso. Eu não sei lidar. Ou sou artista, escritora ou cuido da minha casa com disciplina. Não dá para deixar de lado a responsabilidade de cuidar do meu filho para viver de arte. Para ficar escrevendo, preciso de contemplação, de ócio... Isso não combina em nada com as coisas que quero para o meu futuro.