Fim de tarde


O sol brilha entre folhagens e favorece a temperatura ambiente, nem tão frio, nem tão quente, a rede em equilíbrio físico, quase inerte entre direita e esquerda, o ar livre de poluentes nos trás a maresia, ao mesmo tempo que uma chuva fina proporciona o aroma de terra molhada e faz lembrar o quintal da infância, o joelho sempre ralado, os sonhos de querer ser gente grande, das batalhas diárias e aventuras que deixaríamos para depois.

Olhava para tudo, sentia tudo e perguntava silenciosamente, e os nossos sonhos?

Quando a rede deixou de pender para um ou outro lado e nos fez acreditar que o pouso estaria correto, que o porto era seguro a ponto de arriar as malas, fincar estacas e prover um teto sobre nossas cabeças?

Caminhamos lado a lado, e nossas ideias muitas vezes divergiam, ainda assim insistiamos, buscamos compreender o caminho de cada um, as sandálias que cada um utilizou para atravessar os espinhos da vida, os arranhões que deixaram cicatrizes mais ou menos profundas, as dores sentidas em silêncio, outras que se fizeram ouvidas, e aqui estamos, algumas décadas de histórias contadas, e nós,  especialistas em  colar cacos e montar quebra cabeças, mas deve ser assim que aprende a compreender o outro, respeitar os nossos próprios limites; talvez,  enquanto a rede balançasse, teriamos o impulso necessário para seguir mais adiante.