Decepção
Naquele momento fatídico eu achei que poderia contar contigo, e quase implorando pedi que me estendesse a mão. Mas mesmo depois de ter me dedicado tanto a você, de ter devotado a você os meus dias numa quase servidão, o que recebi em troca foi o seu desdém. Sua retribuição foi a mais pura ingratidão. Mas o quê eu podia esperar de você? Porque você teria qualquer obrigação em me retribuir tudo que lhe fiz? A mágoa foi grande, custará a passar, mas serviu para descobrir que é assim mesmo, as pessoas são gentis até o ponto em que lhes convém. Não te desejo mal. Não guardarei rancor. Sei que a vida dificilmente permitirá que eu testemunhe a sua desgraça. Nem é isso o que realmente quero. Tudo o que eu ainda não compreendo é porque eu criei tanta expectativa por você. Porque eu esperei que houvesse algo maior entre nós? Nunca houve nada especial, o que houve foi alguém que por anos se prestou a zelar por algo que não merecia nenhum zelo, se prestou a oferecer a alma em troca de um mero sorriso, a derramar seu próprio sangue por conta de um beijo na face e um obrigado apressado. Quanta tolice. Quanta ingenuidade, meu Deus! Sei que me ter por perto pouco lhe importa, mas assim mesmo lhe peço: vá viver sua vida bem longe da minha. Não me recuperei ainda, mas o passar dos dias é o melhor remédio para as piores decepções.