Eu vi aquela menina se transformar em trevas de um dia para o outro

Ela tinha uma áurea tão iluminada. Seu caminhar mais parecia uma dança charmosa. Seu rosto era sempre estampado por um sorriso. Sincero, claro. Ela costumava agir de forma tão doce, mas tão doce… Que quando me deparei com aquela garota amarga, não a reconheci. Sempre perguntava o que a deixou daquele jeito. A resposta era a mesma: “eu amadureci”. Não acreditei na desculpa dela. Até porque o que tá maduro costuma ser bom e ela estava mais para uma manga verde.

Foi fácil descobrir o que aconteceu. Tem tudo a ver com uma palavrinha básica: amor. Aquele amor que costuma fazer bem, como o que uma mãe mantém com sua filha, também destrói corações. Quando ela achava que ninguém estava olhando, sua máscara alegre caía e seu semblante era sofrido.

Fiquei sabendo que ela amou. E amou um menino. No início, a tratava igual a uma princesinha. Chocolate, sms de madrugada… Todos aqueles clichês de um casal. Beijava o chão que ela caminhava. Fazia carinho em sua face toda vez que se encontravam. Pagava cinema e uma casquinha do Mc Donald’s quando saíam. Era aprovado pela sogra, com selo de qualidade de um príncipe encantado. Enfim. O que aconteceu? Traição? Não. Ciúme? Não. Foi o tempo. O tempo desgastou um amor que poderia durar para sempre.

E de repente, eles não se beijavam com volúpia. De repente o príncipe nunca foi príncipe, apenas um sapo qualquer. De repente eles arranjaram várias brigas por motivos bobos. De repente o relacionamento não avançava, só andava para trás. Não tão de repente, eles terminaram. Mas a pergunta que fica é: como um término de namoro tão pacífico resultou numa jovem despedaçada e irreconhecível?

O fim. Ela não soube lidar com o fim. Porque depois percebeu que havia um rombo tão grande dentro do peito que somente aquele cara poderia cobrir. As tardes se tornaram monótonas e para piorar doía observar tantos casais se relacionando normalmente enquanto ela estava sozinha. Ela se destruiu totalmente e eu pensei: "alguém tem que ensiná-la! Ensina-la que nem todos os fins devem ser ruins. E que por mais que sejam difíceis, às vezes é o melhor a ser feito. Terminar. Pois chega um momento que é impossível ficar empurrando com a barriga."

Nem todo fim precisa ser encarado como uma briga, um desentendimento ou falta de amor. O fim pode ser um abraço de “tchau”, um sorriso torto indicando adeus. É que desapegar das pessoas é mais do que rejeitar uma ligação do ex -namorado. É atender ao telefone e não sentir mais o frio na barriga que sentia antes. O fim é mais do que forçar um término. É conseguir manter a indiferença. É se despedir, com olhares que declaram um último encontro. O fim simplesmente existe. Ele não é o vilão de uma história de amor. Apenas existe. E eu garanto que se aquela menina tivesse encarado o fim com coragem e fé, não estaria se parecendo atualmente com uma morta viva. Mas não depende de mim. Nem do maldito tempo, o desgastador de relacionamentos. Depende dela. Eu só espero que ela saia desse transe hipnótico rápido, antes que não sobre nem mesmo farelos de si mesma espalhados pelo chão.