o sagrado irmão — ou a crítica da Crítica crítica
Eu bem não iria retornar não, visto que enviei o Câmbio final e seria aquilo, eu ficaria porali. Entrementes, dei com a “Crítica crítica, [e], por muito superior que se considere em relação [a mim], nutre por [mim] uma infinita comiseração. Tão intenso é o amor...”. Então a trouxe pra casa.
  Coisas pessoais que desejo reler, a serem relidas com a calma que uma lan house não oferece, as trago pra casa.
  Me desvio de capengas acusações sem a mínima sustentação — nunca imaginei um doutor em Comunicação sem argumento e gratuitamente agredindo com ilações especulativas: “autoritarismo” (meu), “baixeza” (minha), “misantropia” (corri ao Houaiss a aferir o significado — sou misantropo e nem sabia)...
  Um arsenal bem pesado!
  Um dia alguém disse que o escrito é coisa séria, num é bate-boca empertigado de momento intempestivo: o cara pensa e repensa e pensa mais um tanto... escreve, reescreve, revisa, matuta mais e envia ao destinatário — num tem jeito, de fato o que diz é o q’ele pensa! Lembro de quem me disse isso, é, e ele tem razão.
  “A [minha] exposição está, naturalmente, condicionada pelo seu objeto [ilações especulativas]. De uma maneira geral, a Crítica crítica situa-se abaixo do nível já atingido pelo pensamento... A Crítica crítica obriga-[me], muito pelo contrário, a confrontá-la com os resultados conseguidos, enquanto tais.”
  Insisto com marcadores por perceber q’eles facilitam o entendimento (pela gratuidade da agressão, pensando bem, num sei... nem assim).
O fato é um aspecto secundário da realidade.
irônico, Mario Quintana, lá pelas tantas assim disse...
e também disse assim:
A esperança é um urubu pintado de verde.
  • Sobre o que gerou a Crítica crítica, eu poderia ter falado mais do que falei, a começar pela abertura, a preocupação com meu “bem-estar, com a [minha] vida” — sofismou bonito, hein, danado! Preocupado comigo, desde quando? A atenção a mim é nula desde sempre! Desde quando se ateve à minha ocupação, de como sobrevivo financeira e moralmente, como gente, de como essas faltas no dia a dia e no dia a dia são refletidas psicologicamente em mim? Nem quer saber.
  À época em q’eu lidava com abelha, ganhava dinheiro e, inclusive, comprava seus quadros não apenas por que de alguns eu gostava, mas mais pra ajudar o miserê; quando aos seus olhos e aos de amigos eu era folclórico e vinham à roça apreciar a figura tão pitoresca saída de Ipanema adentrando o ermo a lidar com um inseto exótico — sim, aí havia a “atenção”.
  Sim, sim, este mesmo roceiro semi-analfabeto aqui — à toa de hepatite e com o primogênito recém-nascido recuperando-se da prematuridade de seis meses — leu, em 81/82 li o rascunho de mestrado sobre Ideologia brasileira e ofertei, através de Caio Prado Junior, Jacob Gorender, Alberto Passos Guimarães, Mário Pedrosa..., variados conceitos bem aproveitados, quando foi até elogiado pelo orientador, um tal de Guerd Bonrai, se é assim que se escreve (ao menos ao pé da letra a pronúncia é essa). Ah, aí houve atenção. Tenho tudo arquivado, anotação por anotação — quase 30 anos, cópias tiradas com papel carbono —, só estou sem o mínimo saco de onde vasculhá-las.
  Teve um parêntese na sua desatenção quanto a mim, num caso extremo e recente, teve sim: em 1º de fevereiro do ano passado, enquanto nossos pais eram extorquidos por bandidos que me “encarceravam” na mala dum carro, eu num pardieiro era extorquido pelos mesmos bandidos que mantinham minha filha “encarcerada e dopada” numa favela — trauma que ainda carrego —, ali, a pedidos, ao telefone você foi o mediador entre a família e os crápulas, ali foi preciso e agradeço. Embora depois, eu não entendendo patavina — estava zureta —, quando os holofotes estavam em mim exaurido, destrambelhado no sofá, tive a impressão de que puxou o foco pra si, e vangloriando-se do feito fez-se protagonista, curtiu representar aquele papel;
  • o ponto principal (“questão central”) é reconhecer o desconhecer da arrogância; o afastado (“periféric[o]”), é aceitar a prepotência, a tendência de ser o sabichão, a infâmia de “querer igualar-se a Deus”. Se assim fizesse — reconhecer-se, aceitar-se —, aos demais ficaria melhor, não os açularia e estes evitariam Que sujeito mais besta, se acha!...;
  • quanto ao deboche de que escrevendo “admiráveis sob todos os aspectos literários e estéticos”, q’eu me expresso melhor, hã, num seria daí que me locupletaria de glória. Ao vivo e em cores, sobre um palco à frente do quadro-negro e voltado pruma plateia de jovens, oralmente, não, nem um pouco (se há alguma competição nesses dois méritos, no segundo ganha de lavada!); mas, ajuntando letras após letras, palavras após palavras, frases..., me expresso sim, bem melhor! Tenho a minha voz e nesse aspecto e noutros expressivos, estruturais, sou único! Diferentemente de quem nem sabe ler mas tem doutorado em et cetera e coisa e tal;
  • por fim, sobre “misantropia” (gr. misanthrópía, as 'horror, ódio ao homem'). Substantivo feminino — característica do que é misantropo. Acepção 1. ódio pela humanidade. Este é o núcleo da Crítica crítica, o Juízo Final Crítico, o ardiloso tiro de misericórdia, o Trovão — d’eu ser misantropo. Sabe o que diz, da gravidade disso? Nem!
  Bem, vindo daí percebo uma tremenda histeria tão descompensada, reação por eu flechar o tão decantado marxismo dinossáurico (hibridez de dinossauro com jurássico, mutação pós-moderna), o tendão de aquiles.
  Defender os próprios direitos num meio social insociável, ou embater o despotismo assim “preferindo”, que seja, a solidão, é uma escolha demais íntima e nada fácil. Tem-se que saber conduzir e ter cu. Cu! É, num é mole nem um pouco; é pra poucos!
  Assim como também não deve ser nada fácil prum dialético-materialista histórico pra lá de ortodoxo, intelectualoide meia-tigela, acima de tudo um tamanho vaselina — opção extremamente pessoal —, e a ela dar-se a cara a receber “uma [contra-] resposta discordante”. É, deve ser difícil pra daná absorver a crítica da Crítica crítica desmascarando o academicismo, fluir duma farsa.
Vi cumprir as palavras da Escritura sobre sua obra: 
Bom vai ele./ Quando o boi/ trabalha um a um.
Epílogo histórico
  Será, sou imaginante a respeito de quem eu suponho conhecer? Nem sei... É, agora percebo, desirmão, fui imaginante, demais. Hoje não; sim, desconheço quem eu supunha conhecer! Sei.
 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 20/10/2011
Reeditado em 22/10/2011
Código do texto: T3287729
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