Pastores e apriscos - Jo7
Esta lição do Novo Testamento, embora conhecida por muitos, leva a implicações já não tanto reconhecidas por todos. 1) Um aprisco, 2) uma porta, 3) um rebanho, 4) um porteiro, 5) um outro rebanho, 6) um outro aprisco, 7) um pastor, 8) um mercenário (também ladrão, salteador, estranho) e 9) um lobo – estão unidos na construção desta maravilhosa parábola.
Comecemos pelo 1) caráter dos pastores, depois 2) os apriscos envolvidos.
1) “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral [ou aprisco] das ovelhas [no sentido da reunião dos salvos] mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas” (10.1-2).
Este ladrão e falso pastor tem sua aplicação primária no pastor inútil profetizado em Zacarias, falando do falso profeta que se erguerá no final dos tempos, e que João em seu Apocalipse também anteviu.
“Porque, eis que suscitarei um pastor na terra, que não cuidará das que estão perecendo, não buscará a pequena, e não curará a ferida, nem apascentará a sã; mas comerá a carne da gorda, e lhe despedaçará as unhas. Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho!” (Zc 11.16-17).
“E vi subir da terra outra besta [o falso profeta], e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão… e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta… E faz grandes sinais… E engana os que habitam na terra… E faz que a todos… lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas…” (Ap 13.11-16).
O diferencial nítido e irrefutável entre o caráter dos pastores está na disposição de um deles lutar até a própria morte por suas ovelhas:
“Eu [Jesus] sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário [o pastor inútil], e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo [Satanás], e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas” (10.11-13).
Jesus tem a característica única de ser – simultaneamente – o pastor e a porta de passagem para as ovelhas.
“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á… Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas…” (10.9,14).
Jorrando mais luz à sombra, mas sem nos estender, o Pastor seria o “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.10); e a porta seria a “entrada pela fé a esta graça” (Rm 5.2) que leva à perfeita justificação.
Pela sombra da parábola, se o seu pastor não estiver disposto a morrer pelas ovelhas do seu aprisco religioso, então você deve aguçar bem os seus ouvidos…
“A este [nosso sumo pastor Jesus] o porteiro [o Pai] abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome [baseado na eleição eterna] às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem [ou ao menos deveriam estranhar] a voz dos estranhos” (10.3-5).
Paulo, o apóstolo dos gentios, também conhecia o grave perigo.
“Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis [‘as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais’ (Ef 6.12)], que não pouparão ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens [falsos pastores infiltrados para corromper as igrejas] que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si” (Atos 20.28-30).
2) Dois apriscos são previstos, forçando a ideia de que dois rebanhos distintos estão separados – um que já existia, e outro que seria ainda formado e reunido com o primeiro para formar um só rebanho.
“Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (10.16).
A partir do Pentecostes, a reunião dos elementos que creriam dentro destes dois grupos tão distantes – judeus e gentios – em um só rebanho, passa a vigorar. O termo cunhado pela Escritura – Igreja corpo de Cristo – tem exatamente esta estruturação. Novamente Paulo, especialista no assunto, traz a referência.
“Mas agora em Cristo Jesus, vós [gentios], que antes [quando Deus ainda atuava através de Israel] estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos [judeus e gentios que passam a crer em Jesus] fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos [que vigorava somente para Israel], que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois [povos] um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe [gentios], e aos que estavam perto [judeus]; porque por ele [Cristo] ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito” (Efésios 2.13-18).
Tudo mudou – para melhor! Assim, “ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos” (Hebreus 6.9).