O poço de Jacó – fundo e sem balde - Jo5
Também não era minha intenção comentar sobre uma das mais profundas conversas teológicas, doutrinárias ou dispensacionais – A mulher samaritana do poço de Jacó. A conversa provavelmente deve ter sido mais longa, mas aprouve a Deus, como é costume do Espírito, sintetizar ao ponto da necessidade espiritual do homem, removendo as curiosidades naturais da alma.
Esta mulher, samaritana de nascença – e podemos questionar: gentílica com traços judaicos ou judia com traços da mistura pagã?! – vai em busca de água em um poço, e, para sua ‘sorte’, encontra o Messias desconhecido.
“E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta. Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida” (João 4.6-8).
Tudo é perfeitamente medido! Os discípulos – judeus – haviam deixado Jesus em busca de algo que sempre lhes falta – pão para si, para o próximo e para seu Mestre. Aliás, comentamos sobre isto na análise de Lucas e que seria bom você complementar: nota 6 - ‘Entre amigos’ e nota 7 - ‘Entre irmãos’. Mas exemplifiquemos o assunto para esta necessidade básica deste sofrido povo:
“Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei... Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?” (Isaías 55.1-2). Dois casos estão em vista aqui – os que não podem comprar pela falta do dinheiro, e os que o possuem mas gastam com futilidades...
Jesus, neste contexto, ao retornarem com o pão que não saciava, traz mais luz ao tema:
“E entretanto os seus discípulos lhe rogaram, dizendo: Rabi, come. Ele, porém, lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis [e ainda desconhecem]” (4.31-32).
E não podiam admitir, pelo seu desprezo a tudo que não fosse atrelado ao seu pequeno mundo, qualquer alteração do esquema que era de responsabilidade divina:
“E nisto vieram os seus discípulos, e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que perguntas? ou: Por que falas com ela?” (4.27).
E seu exclusivismo arrogante e hipócrita continua a cegá-los para a nova realidade de que Deus mudou seu foco de ação há 2000 anos. Mas continuemos.
“Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos). Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva?” (4.9-11).
É este ponto que queremos debater. Por que Ele não tinha com que a tirar? – Porque não possuía um cântaro que pudesse baixar ao poço. E por que não havia um lá de prontidão em caso de necessidade? – Porque cada um tinha seu próprio ‘balde’. Além da necessidade do próximo ser negligenciada, um ‘balde’ exclusivo demonstra, em figura espiritual, a busca satisfeita pelo seu próprio instrumento de busca. Cada um ‘edificará’ seu próprio instrumento de salvação.
E dois pontos são sublinhados aqui – 1) A profundidade do poço e 2) os recursos individuais.
1) A profundidade do poço de Jacó aponta, figuradamente, em direção oposta à visão da escada de Jacó, “cujo topo tocava nos céus”. Já comentamos aliás este princípio na 3ª nota intitulada “Duas escadas – uma delas sem degraus”. Se aquela subida em direção celeste era dificultada pela sua altura e a necessidade óbvia de santidade, só restava descer um poço profundo que só podia ser acessado pela criatividade humana, desconsiderando a santidade pessoal. A mulher, protagonista de todas as buscas humanas, não estava em vívido adultério?!
Por isto Deus desceu, para aproximar este Deus distante e santíssimo Nele mesmo! Todas as alturas e profundidades Se tornam próximas em Cristo.
2) O recurso engenhoso do ‘balde’ que desce até ‘o fundo do poço’ (figuradamente falando), demonstra a força individual na tentativa de alcançar o inatingível e desnecessário ao final das contas. Cada um se utiliza do seu ‘baldinho da salvação’. Suas formas, suas capacidades, seus materiais e suas intenções podem variar, mas não passam de tentativas de saciar o insaciável. Quanto mais se desce, menos se sobe!
E quantos ‘baldes’ não temos preparados em nossa casa, em nossa mente, em nossa alma, em nossas igrejas, em nossos púlpitos??... mas a resposta será sempre a mesma!
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” (7.38).
Jeremias soma em única parábola estas 2 figuras:
“Espantai-vos disto, ó céus [desde a ponta superior da escada de Jacó], e horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente desolados, diz o Senhor. Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas (ou ‘poços’ segundo busca em search.nepebrasil.org/strongs/?id=H877), cisternas rotas que não retêm águas” (2.12-13).
Em Cristo – e somente Nele – tanto a subida impossível quanto a descida inútil tomam um novo significado.
“Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8.39).