Deus desceu! - Jo2

O maior problema na compreensão da pessoa divina, como a aceitamos pela fé no Cristianismo – constituída de 3 Pessoas idênticas porém únicas e inseparáveis – está na Pessoa do Filho.

Ninguém tem problemas quanto à perfeita divindade do Pai, e quanto ao Espírito, se houver alguma confusão, Ele é Espírito, o que atenua a controvérsia.

O Filho, no entanto, partindo do pressuposto de que assumiu nossa humanidade, passa a incorporar duas essências estruturais que confundem nossas mentes meramente físicas e presas ao mundo visível. Jesus então 1) seria simplesmente mais um homem que passou a existir no tempo e depois foi divinizado de alguma forma, ou era Deus perfeito sempre e, no momento predito, assumiu também nossa humanidade com todas as suas capacidades e incapacidades?! 2) É mais Deus e menos homem, ou mais homem do que Deus?! 3) Seus milagres únicos e gloriosos jamais vistos partiam exclusivamente do poder de sua divindade ou de sua humanidade exaltada pela divindade?! E poderíamos multiplicar os impasses...

Vamos lançar algumas bases doutrinárias sobre o mais debatido dos temas cristãos, já que analisamos o Evangelho de João que foca a divindade deste Homem único, mas lembrando que provavelmente tocaremos novamente neste assunto quando discorrermos pelas epístolas do Novo Testamento.

E tudo começa pelo ‘Princípio’ de João – “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (1.1)

A única tradução perfeita que eu conheço é a da “Almeida Revista e Atualizada Interlinear” que traz a relação correta entre estas 2 dimensões – “e Deus era o Verbo”. A ênfase aqui não está na simples divindade do Verbo, pois não é isto que o Espírito queria exaltar, mas que o próprio Deus Eterno era o Verbo. Vamos reler? – “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e Deus era o Verbo”.

E “O Verbo” – eterno e que se encontrava com Deus eterno desde o princípio – “se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (1.14).

Podemos dizer sem nenhuma contradição (porém com muita perplexidade) que Deus desceu entre nós, mas não na forma divina e espiritualmente invisível, e sim na forma humana da carne física e visível.

Dentro deste conceito da incorporação e combinação do humano ao divino, João agrega logo a seguir mais uma diferença constrangedora entre o que não se podia ver perfeitamente, e o que passou a ser visto com riqueza de detalhes, ao afirmar que “a Lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (1.17).

Ora, então não havia verdade na lei de Moisés?! Claro que havia, mas, como assevera Paulo, “estava enferma pela carne”. Toda a verdade da Lei não tinha nenhum poder para livrar aquele povo “da lei do pecado e da morte” (Romanos 8.1-3). Além do que, ninguém poderia ou ainda pode conhecer a plenitude de Deus através de regras e mandamentos. A Lei somente indica o caráter santo de Deus – jamais sua misericórdia ou graça, ou outros atributos morais e existenciais.

E não havia graça na Lei!? Obviamente não! Uma vez que dependia da ação humana direta para seu cumprimento – e a graça não depende da ação humana. O ‘download’ da Lei no Sinai demonstra inequivocamente que ‘graça’ não estava incorporada em seu sistema:

“Se até um animal tocar o monte será apedrejado ou passado com um dardo. E tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo assombrado, e tremendo” (Hebreus 12.20-21).

Jesus é o Deus conosco que traz a seres contaminados e limitados a oportunidade única de comprovarmos toda a justiça divina, ao cumprir toda a Lei requerida por Deus, e que ao mesmo tempo demonstra toda a graça divina, levando perdão aos homens pelo descumprimento destas mesmas Leis.

Duas afirmações – uma em Hebreus, e outra exclusiva em João – aclaram nossa proposta acima.

“Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão... Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça [graça absoluta, perfeita e infindável para aquele que simplesmente crê]” (Hb 4.14-16).

“Qual de vocês pode me acusar de algum pecado [justiça absoluta]? E se estou falando a verdade, porque vocês não creem em mim?” (Jo 8.46).

Respondendo nossos 3 questionamentos mais acima:

1) O Filho é Deus perfeito sempre e, no momento predito, assumiu também nossa humanidade com todas as suas capacidades... porém adaptadas e resguardadas pela humanidade.

2) É plenamente Deus e plenamente Homem... porém sua humanidade não está presa ao vício da velha natureza, visto que passou a ser uma nova criação, uma vez que não herdou a natureza caída de José ou Maria.

3) Seus milagres únicos e gloriosos jamais vistos partiam da Sua condição existencial única, perfeitamente unida e inseparável. Seus milagres e manifestações sobrenaturais partiam de Alguém Singular – o Verbo em carne!

Ainda vamos complementar o assunto quando adentrarmos nas epístolas dos apóstolos.

Galguemos o próximo degrau no exame deste livro glorioso de João.