Os jumentinhos presos - Mc7

Continuando nosso exame de Marcos, sob o ponto de vista da face servil de Jesus – Quem não conhece a famosa passagem do jumentinho que serviu de veículo para a entrada ‘triunfal’ de Jesus em Jerusalém? Esta é uma passagem com intrigantes ensinos.

“E, logo que se aproximaram de Jerusalém, de Betfagé e de Betânia, junto do Monte das Oliveiras, [Jesus] enviou dois dos seus discípulos, e disse-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós; e, logo que ali entrardes, encontrareis preso um jumentinho, sobre o qual ainda não montou homem algum; soltai-o, e trazei-mo” (Marcos 11.1-2).

Marcos nada fala da jumenta, que também se encontrava amarrada. Só o evangelho de Mateus dá a entender que ambos foram soltos, e não fica claramente definido ali quem serviu de montaria. Mas os outros 3 evangelhos afirmam que só o jumentinho foi montado.

Quem representaria então o jumentinho?! Voltemos um pouco no tempo.

“Acaso é Israel um servo? É ele um escravo nascido em casa? Por que, pois, veio a ser presa?... Porventura não fizeste isto a ti mesmo, deixando o Senhor teu Deus, no tempo em que ele te guiava pelo caminho?... Vê o teu caminho no vale, conhece o que fizeste; dromedária ligeira és, que anda torcendo os seus caminhos. Jumenta montês, acostumada ao deserto, que, conforme o desejo da sua alma, sorve o vento, quem a deteria no seu cio?” (Jeremias 2.14-24).

Ezequiel também se serviu da figura.

“E [Jerusalém pelo contexto] enamorou-se dos seus amantes, cuja carne é como a de jumentos, e cujo fluxo é como o de cavalos. Assim trouxeste à memória a perversidade da tua mocidade, quando os do Egito apalpavam os teus seios, por causa dos peitos da tua mocidade” (Ez 23.20-21).

Se os amantes da nação eram comparados a jumentos, então a própria nação seria a jumenta!

E o que dizer da jumenta que abriu sua boca para repreender Balaão? E as jumentas extraviadas do pai de Saul? E as mil jumentas de Jó na restauração de sua sorte? Cada figura aqui é uma parábola a ensinar algo do futuro escabroso ou glorioso de Israel, mais especificamente Jerusalém.

A ‘jumenta’ nunca se deixou guiar pelo Senhor, sua rebeldia é notória em todos os profetas do Antigo Testamento. Mas o ‘jumentinho’, a última geração de Israel ao final da tribulação, aquele remanescente fiel que não se deixará guiar pelo anticristo – esta será conduzida, pela pregação dos 144.000 escolhidos, a se subordinar Àquele que foi desprezado pela jumenta (figura dos que se assentavam na cadeira de Moisés).

Este tempo dilatado entre a recusa do Messias pelos pais e posterior aceitação pelos filhos, tem seu paralelo perfeito quando o povo eleito lá no deserto foi impedido de entrar no descanso de sua terra, mas os filhos foram agraciados contra todas as expectativas.

E Paulo amplia nossa visão ao usar a figura do filho menor que não tinha condição de assumir seu posto espiritualmente adulto, mas que ainda chegaria o tempo quando a nação fiel e remanescente fosse finalmente aceita pelo Pai.

“Digo, pois, que todo o tempo que o herdeiro é menino em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo, mas está debaixo de tutores e curadores até ao tempo determinado pelo Pai. Assim também nós [judeus], quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo” (Gálatas 4.1-3).

Mas continuemos a ruminar. Onde foi encontrado o animalzinho?

“E foram, e encontraram o jumentinho 1) preso 2) fora da porta, 3) entre dois caminhos, e o soltaram” (Mc 11.4).

Que termos! Nada precisaria ser dito se os ouvidos estivessem bem abertos!

Se a jumenta e o jumentinho estão de fora, enlaçados por caminhos tortuosos, Seu dono deve proclamar sua soltura.

“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu [pela figura da jumenta] e a tua descendência [pela figura do jumentinho]” (Deuteronômio 30.19).

“Ouvi agora, ó casa de Israel:... Não são os vossos caminhos tortuosos?” (Ezequiel 18.25).

“E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta” (Hebreus 13.12).

E o que disseram ‘seus donos’ quando viram o ‘atrevimento’ dos discípulos querendo libertá-los?!

“Que fazeis, soltando o jumentinho?” (Mc 11:5).

Mas Jesus não teve que ouvir o mesmo quando curava as muitas feridas do seu rebanho?

“Com que autoridade fazes tu estas coisas? ou quem te deu tal autoridade para fazer estas coisas?” (Marcos 11.28).

Com tudo isto em mente, talvez agora possamos entender melhor certas exigências da lei mosaica, porque na verdade – “Porventura tem Deus cuidado dos bois? Ou não o diz certamente por nós?” (1 Coríntios 9.9-10).

“Com boi [o servo obediente] e com jumento [servo rebelde] não lavrarás juntamente” (Deuteronômio 22.10).

Ou apreciar a largura, profundidade e alcance de profecias feitas por Jacó, terceira geração desde a chamada de Abraão, muito antes da formação de um povo regular...

“Ele amarrará o seu jumentinho à vide [ou a videira verdadeira], e o filho da sua jumenta à cepa mais excelente; ele lavará a sua roupa no vinho [morte sacrificial do Messias], e a sua capa em sangue de uvas [quando o Messias retornar e salpicar suas vestes em Armagedom]” (Gênesis 49.11).

Findamos assim nossa análise do evangelho de Marcos, cujo ponto de vista é o do Servo perfeito, e passamos a seguir a Lucas, olhando para o homem perfeito – o Filho do homem.

Agradeço sua companhia até aqui. Passe adiante conosco!