Jesus e o mar, e o vento e a pressa - Mc4

Uma das passagens mais interessantes, com mais atrativos para pregação, provavelmente seja esta – Jesus andando sobre o mar, enquanto seus discípulos remavam com dificuldade.

Podemos retirar inúmeras lições daqui, mas visamos em nossa lição de Marcos a condição de servo a que Jesus se submetera voluntariamente.

Tudo parte de uma ordem.

“E logo obrigou os seus discípulos a subir para o barco, e passar adiante, para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão [a mesma que comera da fartura dos 5 pães e alguns peixinhos]” (Mc 6.45).

Digno de nota é a expressão ‘logo’, mais usada que em qualquer dos outros evangelhos. Parece haver uma necessidade premente, angustiada, absoluta. Nem há tempo para saborear o milagre dos pães. Seguir adiante é a ordem do verdadeiro Servo.

Mas algo os impede.

“E vendo [Jesus] que se fatigavam a remar, porque o vento lhes era contrário, perto da quarta vigília da noite aproximou-se deles, andando sobre o mar, e queria passar-lhes adiante” (6.48).

Podemos, quanto à aplicação, considerar o vento como nossas lutas diárias que nos impedem o progresso, mas devemos, em seu sentido espiritual estrito, entendê-lo como algo mais profundo que sempre tem atrasado o progresso do reino de Deus. Paulo sentia na face o perigo deste sopro.

“Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Efésios 4.14).

Enquanto nos debatemos em divergências doutrinárias, e certamente devemos lutar pela pureza do ensino da Palavra, algo maior está em jogo – a caminhada até o outro lado. Muitos dependem de nosso esforço nas muitas frentes das necessidades espirituais e físicas.

Por isto mesmo o servo perfeito intentava passar-lhes (e só este evangelho acrescenta este pequeno detalhe), pois sua urgência era outra.

“Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” (Salmo 40.8).

“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia” (João 6.38-39).

No entanto o servo não é somente servo – é Rei, como vimos em Mateus; é homem e Deus como ainda veremos em Lucas e João.

Como Deus, não podia abandonar seus filhos eleitos; como homem, não podia esquecer sua semelhante condição; como rei, não podia desprezar seus súditos.

É obrigado a cortar seu passo para ajudar seus pobres irmãos, ainda que seu trabalho se alongasse um pouco mais.

“E subiu para o barco, para estar com eles, e o vento se aquietou” (6.51).

Sim!, temos que olhar para adiante, mas às vezes temos que olhar ao redor e para os que ficam para trás.

“Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer” (Apocalipse 3.2) – esta é uma obrigação para todas as igrejas de Jesus Cristo.

A mornidão de muitos ventos têm percorrido nossas tristes denominações, mas se gritarmos por Jesus, ainda que por espanto ou terror, Ele tornará e nos guiará, e nos acompanhará até o outro lado.

Mas é bom que o façamos rápido, pois o fim para Laodiceia se aproxima rapidamente...