Perfeição - Mt4

O Evangelho do Rei, escrito por Mateus e que ora analisamos, apresenta como seu primeiro discurso o “Sermão do monte ou da montanha”, como assim ficou conhecido. Neste longo sermão, cerca de 105 versículos propõem as regras, com seus direitos e deveres, do reino proposto pelo Rei em pessoa, ainda que subsistindo em forma humilde.

Nesta ocasião, um peso infinito é colocado sobre os ombros dos ouvintes judaicos, e que pode ser resumido nesta sentença – “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.48). Ou seja, uma perfeição infinita é exigida de seres finitos e ordinariamente falhos.

Deus jamais pode rebaixar seus critérios, não importa quem sejam os ouvintes. Sejam homens, sejam anjos, seja seu próprio Filho, nada muda. Se vão poder cumprir ou não, isto é outra questão. O Ministério governamental de Deus não pode variar uma vírgula, uma grama, um centímetro, por um segundo sequer.

Como já havia sentenciado o salmista – “Justiça e juízo são a base do teu trono” (Salmo 89.14).

É sempre bom lembrarmos que o mesmo peso infinito também repousa sobre nossos ombros, nós que fazemos parte do bendito corpo de Cristo na presente era da Igreja.

“Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco” (2 Coríntios 13.11).

Assim, no tocante a Israel, se a lei mosaica já era pesada, seu Rei ainda acrescentou em muito seu peso, afinal Ele em pessoa estava ali oferecendo um reino eterno; se não vejamos dois pequenos exemplos:

“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (5.38-39).

“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela” (5.27-28).

Como eles poderiam se livrar daquele terrível fardo? O Moisés passado os condenava; o Rei presente ainda mais; sem contar o que a hipocrisia farisaica havia adicionado pelo passar dos séculos, pois nas palavras do Mestre – “Atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los” (23.4).

A única esperança se encontrava ali em pé, diante dos olhos de todos; Alguém que tinha vindo não de baixo, mas do Altíssimo; que estava disposto a perdoar plena e perfeitamente – se, e somente se – houvesse quem clamasse por Sua misericórdia e salvação.

João Batista também já havia proclamando a solução – “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo... E eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água... Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.29-33).

Primeiro sangue, depois o Espírito, como já ensinavam as ofertas para purificação do leproso – “E o sacerdote tomará um dos cordeiros, e o oferecerá por expiação da culpa, e o logue de azeite; e os oferecerá por oferta movida perante o Senhor” (Levítico 14.12).

Mas ahhhhh! A resposta dos líderes do povo era de arrepiar os cabelos – “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (Mt 12.24).

Tudo foi desprezado – Jesus e suas palavras, Jesus e seu reino, Jesus e seus milagres, Jesus e seu Pai, Jesus e sua cruz, Jesus e seu sangue, Jesus e seu Espírito, Jesus e seu perdão.

Penso que podemos reduzir a questão que levantamos até aqui, no milagre da cura de um leproso logo após Sua descida do monte, numa clara alusão à Sua descida humilde entre nós. Vamos relembrar?

“E, descendo ele do monte, seguiu-o uma grande multidão. E eis que veio um leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E logo ficou purificado da lepra” (8.1-3).

Todos os recursos dos mandamentos de Moisés, e mesmo os que acabavam de ser acrescidos por Jesus no monte, não podiam remover sequer uma ferida daquele pobre leproso. Pois a lei nunca foi dada para isto.

A purificação deles, e também a nossa em nossos dias, depende de um ato de fé e humildade de um lado – “e o adorou”; e da disposição em perdoar e salvar de outro – “Quero, sê limpo”.

Aqueles que buscarem a lei, quer divina quer humana, para se justificar diante de Deus, voltarão com todas as suas feridas morais e espirituais, mas os que adorarem a Jesus em espírito e verdade serão de todo purificados.

Israel cometeu o erro grosseiro que muitos têm cometido hoje! Este assunto será retomado em momento oportuno.