Elias, o Batista - Mt3
Prosseguindo nossos comentários sobre o evangelista inspirado Mateus, livro este que foca o direito real de Jesus ao trono de Davi, nada como vislumbrar o precursor de seus caminhos – João, o Batista.
Quero analisar 2 declarações singulares de Jesus quanto ao caráter profético daquele que teve a incumbência de aplainar os caminhos do Senhor. E afinal – João Batista era Elias ou não?!
“Mas, então que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta; porque é este de quem está escrito: Eis que diante da tua face envio o meu anjo, que preparará diante de ti o teu caminho. Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele. E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir” (Mateus 11.9-14).
“Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem. Então entenderam os discípulos que lhes falara de João, o Batista” (Mateus 17.10-13).
Juntemos os dados – João era ‘mais’ do que um profeta; todos os profetas anteriores foram considerados menores pelo Messias; João foi separado do tempo da lei e dos profetas antigos (quanto ao seu caráter profético obviamente); João Batista vinha como precursor do Rei humilde; João não foi reconhecido pelos líderes, até ao clímax da sua decapitação; e nas palavras incisivas do Cristo, João era o Elias que estava prometido.
Então podemos deduzir de Elias – Elias foi ‘um’ dos profetas; foi considerado até aquele momento por Jesus inferior ao Batista; Elias estava devidamente incluído no âmbito da lei e dos profetas; Elias ainda virá como precursor ou arauto do Rei em glória (Ml 4.5); Elias igualmente não será reconhecido pelo mundo de então, ao ponto de sua execução (Ap 11.7); mas na resposta contundente do Batista: “E lhe perguntaram: És tu Elias? E disse: Não sou” (Jo 1.21).
Tudo pode ser perfeitamente ajustado, corretamente dividido e espiritualmente aceito, pela promessa do anjo Gabriel a Zacarias – “Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João... e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lucas 1.13-17).
João Batista, portanto, não era pessoalmente Elias, mas vinha nos seus passos, em Espírito e poder. Quanto ao Espírito, penso que ninguém questionará. Mas e o poder que Elias sempre demonstrou em milagres, curas e castigos?
Aqui reside a diferença – não só nos agentes proféticos, mas também no alvo da profecia – Jesus. Suas duas vindas, uma já realizada em humilhação, e outra em glória que se dará em breve, exigiam dois profetas de mesmo valor moral e espiritual, mas nos moldes da aparência externa deste Jesus. Sua primeira vinda na singeleza da servidão e da humanidade, exigia um profeta tão humilde e sem aparência externa de poder, como seu alvo profético sempre escondeu. Sua segunda vinda em glória e poder exigem um profeta a altura, que retornará pelo período tribulacional, como está profetizado de Elias – “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (Malaquias 4.5).
Previa-se um Jesus humilde e sem sinal de poder glorioso?... vinha João, o Batista; prevê-se o retorno deste Jesus ressuscitado e vitorioso?... virá Elias, o profeta.
Outro ponto que corrobora a distinção-semelhança de ambos, trata do significado dos seus nomes.
Elias – ‘meu Deus é Javé’ ou ‘Javé é Deus’; João – ‘Javé é graça’, misericordioso, propício.
Elias deveria deixar bem claro, aos olhos de todo povo do seu tempo, que o Deus de Israel era único e não admitia misturas. Seus sinais poderosos falavam do poder imenso deste Deus insondável, único para Israel, separado de toda forma de mal. Era um Deus que devia julgar a qualquer custo. Por isto este Elias, e não outro, ainda retornará na mesma grandeza e atmosfera.
João Batista, por sua vez, tinha como tarefa indicar que aquele humilde carpinteiro era o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Mas como demonstrar que Aquele que tinha ofuscado toda aparência gloriosa ao se revestir da carne mortal, era o mesmo Deus do passado de Elias, e que estava disposto agora a perdoar totalmente, pelo sacrifício de Si mesmo?!
A posição elevada do cordeiro-divino que ele pregava, constrangia sua ‘indignidade’.
“Então veio Jesus da Galileia ter com João, junto do Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim? Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3.13-17).
E se o maior de todos os profetas não alcançou plenamente a profundidade de sua missão – o que se dirá de nós mesmos?!
Para uma visão complementar de Elias, acesse o 11º Volume desta série – 1 Reis em foco!
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