Ponto sem volta - Pm2
Sempre há, em algum momento da vida, e em todas as situações existenciais, um ponto ultrapassado na possibilidade de retorno ao ponto original. Ou seja, ultrapassado este ponto de esgotamento, o declínio é inevitável e mesmo obrigatório.
Visto do ponto de vista espiritual, este ponto sem volta seria um momento em que Deus, obrigado pelas circunstâncias espirituais daquele com quem Ele trata, Se vê forçado a um julgamento decisivo e implacável com vistas ao reajustamento do reino dos homens ao Seu reino de justiça e santidade.
Israel, tema principal do Antigo Testamento que estamos a analisar, experimentou alguns destes pontos – ora parcial e provisório, ora total e definitivo. Assim, em nossa análise dos 12 profetas menores, podemos contemplar o estado espiritual daquele povo (tanto para a Judá ao sul quanto Israel ao norte) que levou Deus a um julgamento impiedoso de ambos ao exílio. Ao final desta nota, você entenderá aonde queremos chegar. Busquemos alguns destes pontos por entre nossos 12 profetas.
“Repreendam sua mãe, repreendam-na, pois ela não é minha mulher, e eu não sou seu marido. Que ela retire do rosto o sinal de adúltera e do meio dos seios a infidelidade... Pois agora vou expor a sua lascívia diante dos olhos dos seus amantes; ninguém a livrará das minhas mãos... A fidelidade e o amor desapareceram desta terra, como também o conhecimento de Deus. Só se veem maldição, mentira e assassinatos, roubo e mais roubo, adultério e mais adultério; ultrapassam todos os limites! E o derramamento de sangue é constante... Quanto mais aumentaram os sacerdotes, mais eles pecaram contra mim; trocaram a Glória deles por algo vergonhoso. Eles se alimentam dos pecados do meu povo e têm prazer em sua iniquidade... Suas ações não lhes permitem voltar para o seu Deus. Um espírito de prostituição está no coração deles; não reconhecem o Senhor... São todos adúlteros... Eles instituíram reis sem o meu consentimento; escolheram líderes sem a minha aprovação... Eles mergulharam na corrupção... O meu povo está decidido a desviar-se de mim. Embora sejam conclamados a servir ao Altíssimo, de modo algum o exaltam” (Os 2.2,10; 4.1-2,7-8; 5.4; 7.4; 8.4; 9.9; 11.7).
“Eles não sabem agir com retidão, declara o Senhor, eles, que acumulam em seus palácios o que roubaram e saquearam... Fui eu mesmo que dei a vocês estômagos vazios em cada cidade e falta de alimentos em todo lugar, e mesmo assim vocês não se voltaram para mim... Também fui eu que retive a chuva... e mesmo assim vocês não se voltaram para mim... Gafanhotos devoraram as suas figueiras e as suas oliveiras, e mesmo assim vocês não se voltaram para mim... Enviei pragas contra vocês como fiz com o Egito... e mesmo assim vocês não se voltaram para mim... Destruí algumas de suas cidades, como destruí Sodoma e Gomorra... e mesmo assim vocês não se voltaram para mim, declara o Senhor... Pois eu sei quantas são as suas transgressões e quão grandes são os seus pecados... (Am 3.10; 4.6-11; 5.12).
“Não preguem, dizem os seus profetas. Não preguem acerca dessas coisas; a desgraça não nos alcançará... Se um mentiroso e enganador vier e disser: Eu pregarei para vocês fartura de vinho e de bebida fermentada, ele será o profeta deste povo!... Vocês deveriam conhecer a justiça! Mas odeiam o bem e amam o mal; arrancam a pele do meu povo e a carne dos seus ossos. Aqueles que comem a carne do meu povo, arrancam a sua pele, despedaçam os seus ossos e os cortam como se fossem carne para a panela... Assim diz o Senhor: Aos profetas que fazem o meu povo desviar-se, e que, quando lhes dão o que mastigar, proclamam paz, mas proclamam guerra santa contra quem não lhes enche a boca... Por tudo isso a noite virá sobre vocês, noite sem visões; haverá trevas, sem adivinhações. O sol se porá e o dia se escurecerá para os profetas. Os videntes envergonhados e os adivinhos constrangidos, todos cobrirão o rosto porque não haverá resposta da parte de Deus... Seus líderes julgam sob suborno, seus sacerdotes ensinam visando lucro, e seus profetas adivinham em troca de prata. E ainda se apoiam no Senhor, dizendo: O Senhor está no meio de nós. Nenhuma desgraça nos acontecerá... Poderia alguém ser puro com balanças desonestas e pesos falsos?... Os piedosos desapareceram do país; não há um justo sequer... O melhor deles é como espinheiro, e o mais correto é pior que uma cerca de espinhos” (Mq 2.6,11; 3.1-3,5-7,11; 6.11; 7.2,4).
“Ai da cidade sanguinária, repleta de fraudes e cheia de roubos, sempre fazendo as suas vítimas!... Você multiplicou os seus comerciantes, tornando-os mais numerosos que as estrelas do céu; mas como gafanhotos devastadores, eles devoram o país e depois voam para longe... Não há cura para a sua chaga; a sua ferida é mortal... (Na 3.1,16,19).
“Por que me fazes ver a injustiça, e contemplar a maldade? A destruição e a violência estão diante de mim; há luta e conflito por todo lado. Por isso a lei se enfraquece, e a justiça nunca prevalece. Os ímpios prejudicam os justos, e assim a justiça é pervertida...” (Hb 1.3,4).
“Ai da cidade rebelde, impura e opressora! Não ouve ninguém, e não aceita correção. Não confia no Senhor, não se aproxima do seu Deus. No meio dela os seus líderes são leões que rugem. Seus juízes são lobos vespertinos que nada deixam para a manhã seguinte. Seus profetas são irresponsáveis, são homens traiçoeiros. Seus sacerdotes profanam o santuário e fazem violência à lei” (Sf 3.1-4).
“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão uns para com os outros. Não oprimam a viúva e o órfão, nem o estrangeiro e o necessitado. Nem tramem maldades uns contra os outros. Mas eles se recusaram a dar atenção; teimosamente viraram as costas e taparam os ouvidos... Quando eu os chamei, não me deram ouvidos; por isso, quando eles me chamarem, também não os ouvirei... Contra os pastores acende-se a minha ira, e contra os líderes eu agirei... Por isso, não pouparei mais os habitantes desta terra, diz o Senhor. Entregarei cada um ao seu próximo e ao seu rei. Eles acabarão com a terra e eu não livrarei ninguém das suas mãos... (Zc 7.9-11,13; 10.3; 11.6).
“O filho honra seu pai, e o servo, o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me devem?, pergunta o Senhor dos Exércitos a vocês, sacerdotes. São vocês que desprezam o meu nome!... Não tenho prazer em vocês, diz o Senhor dos Exércitos, e não aceitarei as suas ofertas... Se vocês não derem ouvidos e não se dispuserem a honrar o meu nome, diz o Senhor dos Exércitos, lançarei maldição sobre vocês e até amaldiçoarei as suas bênçãos. Aliás, já as amaldiçoei, porque vocês não me honram de coração... Há outra coisa que vocês fazem: Enchem de lágrimas o altar do Senhor; choram e gemem porque ele já não dá atenção às suas ofertas nem as aceita com prazer. E vocês ainda perguntam: Por quê? É porque o Senhor é testemunha entre você e a mulher da sua mocidade, pois você não cumpriu a sua promessa de fidelidade, embora ela fosse a sua companheira, a mulher do seu acordo matrimonial... Eu odeio o divórcio, diz o Senhor” (Ml 1.6,10; 2.2,13,16).
Alguém poderia, em sã consciência, desprezar tão graves acusações? Israel não o soube? Israel não ouviu? Deus não julgou? Deus não os abandonou? E poderíamos nós, que tanto alardeamos nossa fé na Escritura e no seu Escritor, desprezar as mesmas condenações que os desgraçou? E não é nítido – para aqueles que restou alguma visão moral e espiritual – que o cristianismo individual e coletivo se encontra em situação talvez até pior?!
“Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque, se a mensagem transmitida por anjos provou a sua firmeza e toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb 2.1-3).
“E se alguns dos ramos foram quebrados (povo judaico), e tu (povo da Igreja), sendo zambujeiro (oliveira brava), foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira... não te glories contra os ramos... não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também” (Romanos 11:17-21).
Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas!